quarta-feira, 28 de março de 2012

James Akel- o aluno ator



James Akel nasceu em 14 de junho de 1953. Aos 4 anos sua mãe o inscreveu num programa infantil de perguntas variadas o "Tamanho não é documento", dirigido por Aurélio Campos. James conseguiu permanecer no por 26 semanas e a cada uma delas ganhou do patrocinador os  " Brinquedos Estrela ", um brinquedo novo. Era a TV Tupi, ainda Canal 3.
Mais tarde, houve inscrições para um novo programa, na TV Paulista, Canal 5, para apresentador da Sessão Zás-trás. James ganhou o primeiro lugar e com apenas 6 anos de idade foi o mais novo apresentador de programa contratado por uma TV no mundo. A co-apresentadora chamava-se Magnólia. No  programa permaneceu de outubro de 1959 à março de 1960, pois foi convidado pela agência J. W. Thompson, que cuidava da conta da "Alpargatas", para estreiar num novo programa da TV Record, canal 7 , a "Turma dos 7", onde os protagonistas eram 7 crianças e havia um vizinho adulto e outra personagem representada nada mais, nada menos que Jacyra Sampaio, que anos depois encarnaria a Tia Anastásia na primeira das versão do Sítio de Pica-Pau Amarelo, na Rede Globo.
O diretor e roteirista era Armando Rosas.
James contou na escola com a compreensão e  a colaboração de suas professoras e com carinho recorda como a sua professora, D. Adelina Laporta que foi a mesma na primeira e segunda séries, sempre dava um jeito caso ele precisasse de alguma ajuda, como até o abono de uma semana em dias letivos, para que ele pudesse descansar, já que não tirava férias nem em julho.
James conta que não era muito "ligado" nos estudos, pois a televisão era a paixão de sua vida.
Dos 6 aos 12 anos também trabalhou também como dublador. Era o filho no seriado americano "Hazel", dublado na Companhia Gravasom.
Dublou também o filho de Guilherme Tell, no seriado do mesmo nome, na Ibrasom.
Já  nas  "As aventuras de Rin-Tin-tin", aparecia esporadicamente, quando no seriado aparecia o amigo do "Cabo Rusty", aquele ruivinho que era protagonista ( devia ser ruivo com esse nome, deduzo eu, pois a TV era preto e branco!). Uma curiosidade contada por James: o dublador de Rusty era um anão que aparecia no estudio da Gravasom de terno e gravata.
James estudou na Escola do Jardim de Infância ao segundo ginasial da época, só saiu porque seu pai que trabalhava na Light o transferiu para o Colégio Santa Cruz a contra-gosto:
" A Light, companhia elétrica , onde meu pai trabalhava, tinha um acordo com o Colégio Santa Cruz, se o filho do funcionário passasse nos testes , ganharia uma bolsa de estudos. Como fazia muito tempo que nenhum filho de funcionários passava nesses exames, pediram ao meu pai que eu fizesse esses testes. Pra minha infelicidade passei, e aí teve muita pressão em cima de meu pai para que eu estudasse lá. Foi um pesadelo, sofri "bulling", coisa que nunca tinha acontecido quando eu estudava no Caetano de Campos. Pra piorar, minha mãe me tirou da televisão por achar que não era um ambiente muito apropriado para uma criança...".
James lembra da alegria que foi ter participado da inauguração do primeiro "Salão da Criança", em 1961. Eram tantos os fãs do programa "Turma dos 7", que ele e os colegas de trabalho tiveram que ser escoltados por escoteiros e permaneceram num cercadinho, isolados, para não haver tumulto na hora de dar autógrafos.
James conta que a Escola Caetano de Campos promovia a integração entre os professores, diretores e famílias, coisa que jamais se esqueceu e se lembra com saudades.

Aos 5 anos


 James aos 4 anos no programa "Tamanho não é documento"


James recebendo um brinquedo da fábrica "Estrela"

James e o diretor Aurélio Campos, na TV Tupi


4 de abril de 1960

                           A "Turma dos 7", James ao lado da colega

                                Em artigo da Revista "Melodias"

    Continuação








                                                   Revistas de programação da TV-1959


Programação-1959

Um lanche com os patrocinadores e o diretor do programa

Uma das cenas


James é o primeiro à esquerda no sofá


Alguém se lembra da atriz que depois foi a Tia Anastácia no Sítio do Picapau Amarelo?Era Jacyra Sampaio


Declamando no auditório da Escola- dia do professor-1959


7 de abril de 1961

1961 na inauguração do Salão da Criança no Ibirapuera


James dando autógrafos no Salão da Criança

Cartão impresso para os fãs


Verso


Boletim- 4* ano-1963

1963





diretor Dr. João Carlos Gomes Cardim à direita


1* Ginasial-1964

1964-interior da caderneta


Caderneta de 1965


Passeio com pais, professores e diretores- década de 1950



Fotos e jornais do acervo pessoal de James Akel

domingo, 25 de março de 2012

Zuleika, Elvira e Ophélia

 Zuleika de Barros Martins Ferreira, nasceu em 1893 na cidade de São Paulo a 7 de Abril, filha do Engº Tito Martins Ferreira e Cândida de Barros Ferreira.

 Em 1
907 forma-se pela Escola Normal Complementar de Campinas, no mesmo ano passa para a Escola Normal da Praça da República de São Paulo.

 No dia 23 de Janeiro de 1911 é nomeada professora substituta efetiva do Grupo Escolar da Consolação.

 Em 1914 é nomeada adjunta do Grupo Escolar da Lapa.

Em 1917 é  removida para o Grupo Escolar do Triunfo.

 Em 1925 é nomeada adjunta da Escola Modelo Caetano de Campos , onde dava aulas de matemática.
Foi Professora de Metodologia e Prática de Ensino Primário de 1931 a 1955, na Escola Normal Caetano de Campos, quando se aposentou. Faleceu em 1957.
Foi entusiasta da Escola Nova, quando desenvolveu seu projeto "Governo Escolar"que ainda na década de 1950 representava o que de mais moderno havia em matéria de métodos de ensino.
Foi feita uma homenagem à sua memória no dia 8 de abril de 1957, com a presença de parentes, ex-alunos e colegas , em missa celebrada na Igreja de Santa Cecília, às 9:00hs e às 14:00hs foi descerrada uma placa com seu nome em sua homenagem em uma sala ambiente da Escola, além de seu retrato colocado em uma das salas. A cerimônia foi conduzida pela representante da congregação da escola Yolanda de Paiva Marcucci e o encerramento foi feito pelo diretor  Dr. João Carlos Gomes Cardim.
Após sua morte foi decretado aos 16 de agosto de 1957 a criação do Ginásio Estadual professora  Zuleika de Barros Martins Ferreira, na Rua Padre Chico, 420,Vila Pompéia, que posteriormente mudou o nome de Ginásio Estadual para Escola Estadual.


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Elvira Sabino nasceu em 1879. Casou-se cedo, tornando-se Elvira Sabino Brandão. Foi excelente aluna e formou-se professora na Escola Normal - Caetano de Campos


Começou a dar aulas em sua própria casa, na Rua Major Sertório, num porão habitável –como chamavam naquela época, 1904. Essas aulas preparavam candidatos ao concorrido concurso da Escola Normal Caetano de Campos.
 À medida que foi progredindo ocupou outros prédios adaptados (Largo do Arouche e Alameda Santos) até a construção da sede na Alameda Jaú, onde funcionou de janeiro de 1930 a fevereiro de 1973, quando passou a ocupar a atual sede.




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Ophélia Fonseca

Nasceu em Itu em 8 de março de 1894 em uma família de cafeicultores, Ophelia foi normalista do Colégio Caetano de Campos. 
Iniciou sua carreira lecionando Português e Matemática no Colégio Elvira Brandão.
 "O bairro precisava de uma escola laica para atender a elite que queria um novo olhar".
 O Ophelia (com "ph") foi fundado em 1921, como externato feminino, na Rua Sergipe. 
Em 1927, foi para a Rua Bahia.
Ela era uma mulher muito progressista. Foi uma das primeiras, já nos anos 1930, a dirigir um carro em São Paulo. Ophelia herdou do pai, Joaquim Manoel Pacheco da Fonseca, o gosto pela política. A professora simpatizava com os modernistas, tendo se aproximado deles após a Semana de 22. Em 1932, participou da Revolução Constitucionalista, costurando ela própria, nos porões do colégio, uniformes para os soldados paulistas. Ela viveu até 1984.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Professora Maria Helena Chagas



À esq. professora Walburgis, diretor Jorge, prof. Casagrande e professora Maria Helena Chagas- acervo professora Ilse Julia Heise Oliveira

Se você foi aluno de português desta professora, eu diria com convicção que se você sabe alguma coisa sobre essa matéria é por causa dela. E por diversos motivos: primeiro porque você morria de respeito por ela, que não dava colher de chá pra ninguém , ou se sabia a matéria ou repetia de ano , mesmo! E as reprovações não eram poucas, naquele ano de 1977, de 40 alunos da sétima série B, somente 16 passaram…Uma coisa que ela detestava ( confidenciado à uma amiga) era ao se aproximar da sala de aula, ver aquele monte de cabecinhas olhando pro corredor, pra ver se ela estava chegando. Dizia ela que ao a avistarem voavam feito ratinhos em desespero e logo se postavam em pé ao lado das carteiras ( se um aluno estivesse sentado, ela não entrava!).Não havia a mínima possibilidade de alguém estar mascando chiclete, pois este iria imediatamente ser grudado pelo próprio aluno no seu cabelo e não era na ponta do cabelo não!Quanto ao método de ensino, esse sim, foi inesquecível:D. Maria Helena adotava um sistema chamado de diagramas. Nós tínhamos que montar as frases, fazendo uma análise de cada elemento dela e colocando esses elementos numa espécie de montagem que separava cada uma das palavras. Começou o ano de uma maneira fácil, mas com o passar do tempo esses diagramas de análise sintática iam se complicando cada vez mais.Quando ela reprovava um aluno, não voltava atrás: em plena época de ditadura reprovou a filha de militar de alta patente.Foi chamada por ele, que exigiu que sua filha passasse de ano ou… Ela nem pestanejou, disse que estava reprovada e fim de conversa!Numa reunião com pais que disseram a ela que era muito rígida como professora estava presente o organizador da Fuvest.Naquele final de ano , a aluna filha do organizador da Fuvest deu um cartão do seu pai para a D. Maria Helena e disse que ele queria falar com ela, pediu que ligasse. Ela não ligou. A menina foi falar com ela de novo, dizendo que seu pai insistia para que ela lhe telefonasse.Ela telefonou. Ele queria que ela fosse trabalhar na organização da Fuvest. Percebendo o comprometimento, a seriedade  e sua capacidade profissional , fez o convite. Ela aceitou e lá ficou por muitos anos.Reprovou alunos pelos mais diferentes motivos. Uma filha de um outro militar era um ano mais nova que o resto de sua turma e ela a reprovou, mesmo sendo boa aluna, por achá-la imatura. Ninguém conseguia reverter a decisão . Era uma época em que os professores tinham plenos poderes.Se perguntar a algum aluno do ginásio da década de 1970 , qual o único professor de que se lembra, certamente, Maria Helena Chagas é a resposta.D. Maria Helena faleceu de um câncer, na década de 1980, muito jovem ainda.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Histórias Caetanistas- Eliana Cáceres


História escrita em 1994, por ocasião dos 100 anos do prédio da Escola, para o livro organizado por Maria Candida Delgado Reis.Infelizmente Eliana Cáceres, veio a falecer à alguns anos atrás.
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O ano era 1964; eu cursava a 1ª série do Ginásio e gritava:
 “LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS”
 e baixinho:
 “Nas lutas, nas tempestades,
que ouçamos tua voz”
 Era assim que cantávamos na Escola da Praça, na Caetano de Campos, em plena Praçada República, ao comemorarmos a cívica data do Dia da República.
Alguns não chegavam a compreender que aquele brado, entoado gritadamente, para a maioria significava o que os olhos atônitos de todos, alunos e professores, percebiam, no confronto das carabinas, metralhadoras e enormes cães contra homens, mulheres e crianças, adolescentes e velhos: a violência daqueles dias inomináveis, quando, ao faro dos policiais, qualquer cidadão poderia serpotencialmente “subversivo” ou “suspeito”. Assim, abordavam indiscriminadamente, as pessoas com arrogância e prepotência de “autoridades”.
      Muitas fotos mostram várias comemorações cívicas realizadas nos pátios ou no auditório sob o olhar orgulhoso-amedrontado, cúmplice e isolado da diretora da Escola, Dona Yolanda de Paiva Marcucci, e dos representantes do alto comando do 2° Exército. Pareciam tão cientes e convictos de seus papéis, enquanto nós, alunos – muito indignados, outros indiferentes e outros ainda muito assustados -, encenávamos o que pouco ou nada significavam aquelas comemorações, pois nem mesmo a introdução da matéria Educação Moral e Cívica representava algum elo entre a realidade hostil que vivíamos e o ideário sem ideais com que eram ministradas aquelas aulas, normalmente por professores “dedocraticamente” indicados para o tal “nobre mister” – que ironia!
      Que paradoxo relembrar esses tempos, nós que atravessamos a Escola e aprendemos dentro de seus muros a verdadeira cidadania, pois vivíamos como iguais: brancos, negros, amarelos, deficientes físicos, cegos, ricos, pobres, católicos, judeus, protestantes, de outras ou nenhuma crença. Todos recebendo o mesmo tratamento, o mesmo respeito humano e tendo acesso a tudo de maravilhoso que aquele equipamento público oferecia aos seus alunos.
      Foi naquelas salas de aula que começamos a aprender a montar as peças do grande quebra-cabeças – que é a vida. Foi lá que recebemos instrução, informação, conhecimento, que aprendemos a investigar, ver, ouvir, sentir o mundo através de nossos educadores.
 Educadores estes que ministravam aulas não só na Caetano de Campos, mas também em escolas particulares – naquela época, a concorrência entre o ensino público e o privado era absolutamente leal. O fator critério e preferência dos pais é que guiava o contingente de alunos para esta ou aquela escola, pois a instrução na sua verdadeira concepção estava assegurada tanto nos renomados colégios particulares como nas igualmente respeitada e concorridas escolas públicas.
      Nossos professores eram tidos e vistos com respeito, deferência, dignidade – tal qual um magistrado, representante do Poder Judiciário. Eram pessoas que denotavam ter um bom padrão de vida, além do conhecimento que possuíam; eram na maioria especialistas, pós graduados, concursados, enfim, avaliados e abalizados para exercer o ofício de educador. Não transmitiam a nós, alunos, nenhuma aspecto pessoal trágico ou grave; ao contrário, mostravam-se muito seguros, tranquilos, dedicados e conscientes de seus papéis enquanto mestres e, sobretudo, absolutamente profissionais.
É claro que exceções havia: aqueles mestres menos dedicados, mais relapsos, ou no mínimo menos cônscios de seu papel de educador, e até alguns colaboracionistas com o regime vigente, que para muitos de nós,representava desaponto e vergonha.
      Mesmo assim, todos os meus colegas de turma e os da década de 60 em geral, ao sairmos da Caetano de Campos, conseguimos entrar tranquilamente nas melhores Universidades do Estado.
      Mas, vamos continua recordando, pois, sem fugir ao lugar-comum, “recordar é viver”.
      Depois que saí da Caetano de Campos em 1970, treze anos após lá ter entrado, fiquei muito tempo sem poder retornar ao prédio, tamanha a frustração que me causava sabê-lo não mais abrigando as crianças e jovens, vê-lo mutilado, senti-lo não mais a fortaleza que significou para mim. Todo o aconchego que sentia no prédio da praça havia acabado.
      Demoliram em mim, ao cindirem o colégio e deixarem o entorno do prédio deteriorado, tudo o que de mais caloroso, alegre e promissor havia sido construído, dentro daqueles muros, com seus equipamentos e aparatos, por meus mestres, em nossa geração.

Lá retornei unicamente no Dia do Grande Protesto, em 1975, contra o ato criminoso das autoridades que pretendiam demolir a minha Escola, a nossa Escola, a Escola Modelo da Cidade de São Paulo. A esta altura eu terminava meu curso de Direito na Faculdade do Largo São Francisco, outro reduto querido da minha história, mas incomparavelmente diferente do amor profundo que sempre dediquei ao meu segundo lar, que ficava na Praça da República, N° 53.
Cheguei à Escola aos seis anos de idade, aquinhoada que fui num sorteio de prévias inscrições. Recordo-me do orgulho que senti ao vestir meu primeiro uniforme- um aventalzinho branco com babados nos ombros-, e da alegria e emoção com que eu levava a capinha da minha cadeirinha de Jardim de Infância, com o meu nome inscrito em bordado simples, meias soquetes, com botinhas Kicker pretas.
      Aos sete anos fui para o Primário. Aí o status do uniforme mudava e com ele o meu sentimento também: a grande responsabilidade que representava estar no Instituto de Educação Caetano de Campos- IECC.
  À medida que os anos passavam e as bolinhas bordadas no bolso da blusa branca , que se compunha com a saia de pregas azul-marinho de sarja, iam aumentando em número, simbolizando o ano do curso frequentado, mais compreendia o quão importante para mim, vinda de um berço simples, significava estudar e ter de me aplicar para me manter naquela Escola de alto nível. Até hoje me intriga a precocidade dessa responsabilidade, mesclada de medo de perder o lugar em minha segunda casa – a referência do meu mundo era a Escola, onde eu me sentia segura, amparada, cuidada, até por médicos e dentistas, com todas as campanhas da Secretaria da Saúde.
      Duas vezes por semana tínhamos aulas na biblioteca – como me encantva cruzar as portas do museu que antecedia a sala dos livros, dos filmes, dos discos, do conhecimento!
Que gratificante eram aquelas atividades – eu tinha fome de saber!
      O sol que cortava as janelas das salas de aula, às tardes no colégio, aquecia os meus sonhos de menina, que logo se tornaria uma mocinha exultante em vestir a camisa do Ginásio, no bolso da qual iria, finalmente ser pregado o emblema que representava os obstáculos já ultrapassados ao longo daqueles anos, principalmente o temido exame de “admissão ao Ginásio”.
      Das janelas do 1° ano do Ginásio, recordo ter assistido à Marcha com Deus pela família e pela Liberdade – que ruído estrondoso para os meus ouvidos, quantas faixas, cartazes, adereços imensos, quilométricos, lançados ao ar, formando a massa vermelha e dourada fa TFP, ao longo da Avenida Ipiranga! Quanta mobilização que eu não compreendia! Hoje, puxando pela memória, parece que o clima era um misto de ufanismo às avessas. A quê? Naquela época eu não entendia. Passava-me a impressão de algo muito grave e assustador, que claro,  teve seu desfecho dias mais tarde com o golpe à cidadania, tão clamada e reclamada em 1964 por aquelas pessoas que marcharam, na grande maioria mulheres, só que eu ainda era uma mulher em formação.
      Dali em diante, cenas, sons, cheiros e gostos muito fortes se misturaram e passaram a fazer parte do cotidiano. Anos terríveis, anos incríveis: cenas de mais violência, sons de protesto, bolinhas de gude, cavalos, bombas; cheiro de pólvora, gás lacrimogênio, amoníaco, cocô de pomba; gosto amargo de impotência, de estranheza do aparente doce da tranquilidade intranquila em que vivíamos.
      Curioso também é lembrar do nosso Diretor, Gomes Cardim: homem bondoso, cordial e, sobretudo, guardião da moral e dos bons costumes da Escola e fora dela, pois ele costumava –aos moldes do caça-gazeteiro que líamos nas revistinhas da “Luluzinha” e do “Bolinha” – dar imensas voltas nas cercanias da Praça para vistoriar se nós alunos, por acaso não estávamos pisando nos Trópicos das proibições com que nos víamos obrigados a conviver dentro e fora da Escola. As linhas imaginárias compreendiam o distanciamento total entre rapazes e garotas – aqueles estudavam de manhã e nós à tarde; raras eram as oportunidades de nos avistarmos e nos juntarmos. Volta e meia pais de alunas eram chamados ao Colégio para serem cientificados de que suas filhas estavam circulando pelos trópicos proibidos do namoro, do cigarro, da gazeta, etc.. Alguns pais correspondiam às perspectativas do guardião da moral e dos bons costumes, outros manifestavam ciência dos fatos e comunicavam seu consentimento ao comportamento “travesso” de suas filhas.
      Imaginem em plena década de 60, da revolução sexual, da pílula anticoncepcional, dos Beatles, de Woodstock, da ampla liberação, nós no IECC vivendo sob a falsa moral de uma ou, quiçá, duas décadas anteriores.
      Receio que pouco adiantaram as perigrinações internas e externas do nosso saudoso Diretor, pois nós alunos, sempre criativos, dávamos um jeito de passar pelas linhas imaginárias e viver as boas coisas da adolescência: as paqueras, principalmente aos sábados; as festas na casa do Heraldo – lá nós conhecemos luz negra e estroboscópica, gelo-seco, cuba-libre, hi-fi; os jogos da Primavera intercolégios estaduais no Clube Atlético Ipiranga, onde torcíamos por nossos astros do handball, modalidade na qual chegamos a ser pentacampeões – nosso ídolo era o Sharp, grande sujeito (hoje treinador em boas equipes esportivas); os ensaios da fanfarra para futuras apresentações; os bilhetinhos que deixávamos nas carteiras das salas de aula; as idas ao teatro com as professoras de Português Francês ou ainda aos ciclos de debates sobre Literatura na Biblioteca Municipal; enfim, o suposto suplício da época hoje me parece exitante, estimulador, picante e com o sabor inigualável das aulas cabuladas no porão do Colégio ou das escapulidas que dávamos para os cinemas, bem frequentados, das adjacências: Cine Coral, Regina, República, Metrópole e outros.
Memórias boas, queridas, insubstituíveis.
 Sonhos, alguns realizados, outros por se concretizar.
 Amigos, alguns mantidos, outros reencontrados ao longo da jornada.
      Reconquista, por esfoço de uns, de um espaço dentro da Escola para poder – aqueles que sentem o mesmo que eu – relembrar, confraternizar e, principalmente, projetar o futuro, reconstruindo o presente a partir da comemoração dos 100 anos da edificação da nossa Escola. Refletindo sobre o que tivemos e o que tem nossos filhos e terão nossos netos, se não fizermos algo empreendedor e sério, para recuperar a memória dos 150 anos da Instrução Pública no Brasil, a partir de 1846, quando a nossa Escola surgiu!

                           


segunda-feira, 12 de março de 2012

Mário Almeida

Mário Almeida estudou na década de 1940 e foi colega de turma de Modesto Carvalhosa, o querido colega que salvou a nossa Escola de ir à baixo em 1975, devido às obras do Metrô.
Aqui vai uma matéria que postou em 2009  e conta sobre o site do CRE Mário Covas:








Semana passada descobri que há um grupo e um novo site que acolhe os depoimentos de ex-alunos e tudo que possa interessar à memória da nossa Escola Caetano de Campos.

Para o primeiro site ( São Paulo, minha cidade) eu havia mandado umas 10 linhas no ano passado e só agora descobri um depoimento de Virgínia André, que cursou parte do ginásio na mesma época que eu. Ela contou  umas lembranças e me fez algumas perguntas:

Prezado Mário Almeida, acho que fomos colegas! entrei na Caetano em 1943, no quinto ano primário, depois no ginasial, quando fiquei até 1947.Você se lembra do prof. de latim, sr. Geraldo? E do prof. Fausto de Português? e do prof. Orestes Rosolia de História? e do prof. Veloso de matemática? e dos outros professores?e de D. carolina Ribeiro, a diretora? Eu me lembro de todos e tenho muitas saudades daquela escola e da Praça da República, onde íamos estudar Botânica com a professora de Ciências! A minha formatura do ginasial foi no Clube Harmonia, que chic! Obrigada por me fazer recordar de tempos tão maravilhosos!        Virgínia
Não conheço a Virgínia, mas é claro que respondi e repasso para tus (vocês) alguns trechos:
"Cara Virgínia, somos contemporâneos, é claro. Dos professores que você cita, só não fui aluno do Geraldo. O meu professor de Latim, o José, talvez tenha lecionado pela última vez para a minha turma, pois era muito velho e deve haver se aposentado em seguida.
Quanto ao Orestes Rosolia, de História Geral, foi o melhor professor, entre muitos outros ótimos, de toda a minha vida. Já escrevi sobre ele, apesar de nunca ter tido um contato pessoal. A primeira vez que fui ao Louvre, numa sala da civilização fenícia, “ouvi” a voz dele falando sobre aquele povo de comerciantes e de navegadores. Moro no Rio há muito e ele certamente passou por aqui, pois há uma rua com o seu nome. Da Grécia, também há décadas, minha irmã Célia, por haver se lembrado do antigo professor, mandou-me um postal perguntando se eu havia sido aluno dele.

O Fausto, de Português, grande mancha marrom na testa, ao ler uma redação minha, descobriu um galicismo e durante minutos deu uma aula sobre o que eu nem sabia existir.
O Velloso, da Matemática, de cujo filho fui colega, dava aula com a mão direita no bolso das calças. Ele foi ao encontro que promovemos na escola, cuja demolição já estava acertada, mas que conseguimos – advogado Modesto Carvalhosa, ex-colega e amigo para sempre  - tombar como patrimônio do ensino paulista.
Nosso paraninfo na formatura do Ginásio foi o luso Eurico, professor de Inglês que uma vez por mês nos dava uma “aula cantada“: oh my darling, oh my darling Clementine.
Cantava-se de verdade nas aulas de Canto Orfeônico, menos eu. O maestro Caldeira percebeu logo que eu não engatilhava duas notas musicais. Nas provas mensais e nos exames orais, ele me mandava dizer a letra de um dos hinos brasileiros. Acho que ainda sei as letras de todos.
Outras: Ernestina e Madame Marina, de Francês. Dos momentos mais emocionantes de minha vida aconteceu numa aula de Francês. Madame Marina, uma bela balzaquiana, fugira de Paris antes que os nazistas ocupassem  a França. Pouco depois das 10 horas da manhã, dona Alice, a eterna inspetora de alunos, entrou na sala para avisar que as aulas estavam suspensas. Sem que ninguém falasse, a classe se levantou e começou a cantar a Marselhesa. Era 8 de maio de 1945: Alemanha e Itália haviam assinado os termos de rendição na Segunda Guerra Mundial. Esse foi, talvez, o maior momento mágico desses meus 77 anos de vida.
Outras e outros: Galina, de Desenho, chegava na classe e ia para a janela onde escarrava, ia para o quadro e começava a aula. Aristides, de Geografia, doce figura cujo físico me fazia pensar num príncipe que virara sapo. Chiquinha, de Ciências. Antonieta de Paula Souza – uma excrescência do magistério - ditava as aulas de Geografia.
Não fosse eu estimado pela direção da Caetano e vice-presidente do Grêmio 2 de Agosto, teria sido expulso quando esfreguei o dedo no nariz da Antonieta, repetindo a frase que, insultada, desafiou-me a repetir: “Senso pedagógico absurdo”. Minha mãe foi chamada pela diretora Nair de Barros e fechamos um acordo: eu não assistiria mais às aulas da excrescência, tirando zero nas provas mensais. Nair, outra doce mas enérgica figura, creio que também concordava  com o “senso pedagógico absurdo”.
Naquele incidente, Nair substituía o professor Francisco Cimino, demitido por Ademar de Barros depois de uma passeata realizada contra ele numa noite, pelo centro de São Paulo. Eu discursei na frente da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco. Foi a glória, senti-me o próprio Rui Barbosa. Ou Castro Alves?
O imbróglio da demissão do professor Cimino, que insistia em autorizar a concessão da cantina escolar sem concorrência pública, resultou também na queda do secretário de Educação do Estado, Juvenal Lino de Matos.
Carolina Ribeiro, que por longo tempo já dirigira a escola, voltou para onde nunca deveria haver saído. Era ela novamente a diretora quando eu cursava as 3ª e 4ª séries e me convocava como orador em todos os eventos onde um aluno deveria representar o corpo discente. Eu falava antes dela. Invertendo a ordem repetimos a dose, 30 anos depois, num palanque que armamos no jardim fronteiro, junto à escadaria central da escola, no nosso movimento antidemolição. Ela tingia os cabelos de azul e era uma figura imponente, lembra-se, Virgínia? Logo que o Getúlio foi defenestrado como ditador, em 1944, e o Estado Novo acabou, ela filiou-se ao Partido Republicano Paulista. Foi uma excelente e douta oradora e ativa militante política do PRP.
Logo no primeiro ano do Ginásio ganhei minha primeira expulsão de classe, na aula inaugural de Trabalhos Manuais. Benedito, um pobre homem, querendo ressaltar a importância de sua “cátedra”, soltou essa frase: “Já dizia o filósofo grego Anaxágoras que o homem pensa porque tem mãos”. Na minha santa lógica formal perguntei:
- E o maneta, professor?
- Para fora, já!


  Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio's, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "O Comércio no Brasil – Iluminando a Memória" (Confederação Nacional do Comércio), "Confederação Nacional do Comércio - 60 Anos" (CNC); co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos); um dos autores de “64 Para não esquecer” (Literalis) e do recém lançado “Almanaque do Camaleão” (Léo Christiano Editorial). Reside no Rio e há anos é diretor-editor de AciBarra em revista.