sábado, 24 de setembro de 2011

Última Receita do D. Antonio Caetano de Campos

"Em 11 de setembro de 1891, um dia antes de morrer, sentindo-se mal, receitou-se uma fórmula, para ser manipulada na "Botica Ao Veado D"Ouro " e pediu para que Silvano, seu empregado fosse até lá para encomendar a droga.
Se o medicamento fosse destinado a ele, bastava escrever "Para meu uso"e não seria cobrado.
Embora consciente da gravidade de seu estado, o mestre ainda demonstrava escrúpulo.
Seu estado de saúde se agravava rapidamente e o seu dedicado amigo e colega Dr. Carlos Pena, notável oculista, aconselhava morfina, procurando por todos os meios ajudar a salvar aquela preciosa vida.
_ Pena, diz o mestre,você sabe que eu não posso tomar morfina...
A receita aviada na Botica chegou à casa do mestre, mas dela não chegou a se utilizar. Seu estado já era desesperador, seu coração muito fraco, lesado como fora pelo Beribéri, nos pantanais do Paraguai, e acabou não resistindo.
E no prédio hoje desaparecido que tinha o número 12 da Brigadeiro Tobias, no dia 12 de setembro de 1891, às seis horas de uma " manhã risonha de primavera", expirava o inolvidável mestre de um colapso cardíaco."


Texto escrito por Salvador Rocco


                                               Última receita escrita por Caetano de Campos


A última receita, assim como os objetos citados acima encontravam-se salvos na sede da escola na Aclimação, pelo menos até a aposentadoria da bibliotecária e museóloga Wilma Roberto Bozzo, na década de 1980.


                                                  Folha da Manhã- 16 de março de 1958


                                            Continuação da matéria , citando Caetano de Campos



A Botica Ao Veado D"Ouro:


Foi inaugurada em 1858 pelo farmacêutico alemão Gustav Schaumann. No local existia primitivamente uma loja de miudezas e quinquilharias que pertencia ao também alemão Gustav Gravenhost. Schaumann e Gravenhost formaram uma sociedade, deliberando que o último se deslocaria para a Europa para selecionar e adquirir todo o material necessário à instalação de uma botica. À época, a cidade de São Paulo possuía apenas cerca de 30 mil habitantes, atendidos por três dentistas, doze médicos, quatro farmacêuticos e um oculista.
Após ter embarcado com o material adquirido em um navio rumo ao porto de Santos, Gravenhost veio a falecer durante a viagem.
Schaumann recebeu o material, prosseguindo sozinho com o projeto, utilizando como emblema do seu estabelecimento a escultura de um veado dourado, inscrito em seu brasão de família, e que fora trazido no mesmo navio com o material da botica.
Em 1879, o seu filho, Henrique Schaumann  (que dá nome a uma famosa rua paulistana), então com 23 anos, recém-formado em Hamburgo, assumiu o controle do negócio da família. Com ele veio a trabalhar Conrado Melcher, nascido na Alemanha e naturalizado brasileiro. Melcher assumiu a direção do estabelecimento em 1905, quando Henrique Schaumann foi à Europa. Mais tarde viria a tornar-se proprietário da farmácia. Os seus descendentes sucederam-no na propriedade e direção do estabelecimento.
A Botica gozava de um prestígio e credibilidade com poucos paralelos na cidade de São Paulo. Não eram raros os clientes que simplesmente se recusavam a consumir medicamentos de manipulação que não fossem produzidos pelo estabelecimento


Fonte: GOGARTEN, Ulrich. 100 Anos Botica Ao Veado d'Ouro. São Paulo: 1958.

Um comentário:

  1. A Botica Veado D'Ouro não foi assumida pelos descendentes de Conrado Melcher, mas por funcionários, que a compraram ainda na década de 1940. O escândalo dos anos 80 envolvendo a Veado D'Ouro não tem a menor relação com descendentes do Dr. Conrado, como erroneamente foi assumido por alguns sites mal-informados.

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