A construção da escola Normal da Praça da República, em 1894, insere-se numa década de intensas transformações que se constituíram na Capital Paulista nos anos que se seguiram à Abolição e ao advento republicano, impulsionadores de um expressivo processo urbanizador que se iniciara havia cerca de 25 anos, ao tempo da chegada da primeira linha ferroviária implantada na então Província de São Paulo.
A nova dinâmica regional adquirida pela Capital surpreende a antiga paisagem da cidade colonial, que passaria a abrigar novos habitantes, cujos hábitos forasteiros, de padrões europeus, não se adequavam à empobrecida convivência de sobrados e casas térreas, onde se avizinhavam os diferentes segmentos sociais e o comércio, aspecto típico das ruas centrais que lembravam tempos mais difíceis da cidade e da província.
A paisagem dos bairros das elites agrárias em demanda na Capital, como Higienópolis ( loteado em 1893) e Avenida Paulista ( aberta em 1891), de espaçosas moradas dotadas de infra-estrutura, opõe-se ao tumultuado surgimento de bairros de classes médias e de operários, como as Vilas Mariana,Cerquiera César,Prudente, Gomes Cardim e Clementino, todos já presentes na planta da cidade de Gomes Cardim (1897), arruados e loteados sem planejamento ou cuidado na articulação a bairros mais antigos como Brás, Moóca, Liberdade e Consolação.
Se recuarmos no tempo, ali por volta de 1799,iremos encontrar o local onde hoje conhecemos como Praça da República, ainda como o “Curro das Festas Reais”. Era um terreno descampado, sem forma definida, distante dos limites da pequena vila, usado nos dias normais somente como pasto para os animais de carga que viviam soltos pela cidade e para o confinamento do gado a ser abatido no matadouro estabelecido ali no Beco do Mata Fome, hoje, Rua Araújo, até aproximadamente 1830. Talvez venha daí seu primeiro nome, Largo dos Curros, ou seja, lugar onde se guardavam ou se encurralavam os touros, antes e depois das corridas, e também onde se mantinha preso o gado a ser encaminhado para a matança.
A inauguração do viaduto do Chá, em 1892, veio facilitar o acesso à “cidade nova”, encurtando as distâncias até o velho largo e ajudando a selar seu destino.
Em 2 de agosto de 1894, na inauguração do edifício que ficaria conhecido como Escola Normal da Praça, o barro e o mato rasteiro tomavam conta do local.
Já , durante a construção da escola, buscou-se uma nova postura do Estado diante da Educação- laica e popular-, escolhendo simbolicamente o Largo dos Curros, rebatizando-o como Praça da República, no afã de perpetuar as glórias do movimento vitorioso.
Já , durante a construção da escola, buscou-se uma nova postura do Estado diante da Educação- laica e popular-, escolhendo simbolicamente o Largo dos Curros, rebatizando-o como Praça da República, no afã de perpetuar as glórias do movimento vitorioso.
E assim, num belo dia de 1902, aconteceu o que muitos paulistanos já pressentiam : a Praça foi cercada com arame farpado e, durante 2 anos a Prefeitura aterrou, construiu pontes, lagos e cascatas artificiais, desenhou alamedas e jardins, semeou bancos e estátuas e plantou cedros, plátanos, chorões, jacarandás, palmeiras e outros ornamentos mais exóticos.Quando as obras enfim concluídas, a Praça da República era um modelo de jardim moderno projetado para o repouso, a contemplação e o lazer de alguns poucos que podiam circular entre suas alamedas, posar para as lentes dos fotógrafos e desfrutar da paz que reinava em seu interior protegidos por elegantes gradis de ferros e pelos olhares atentos de guardas e porteiros.
A recém criada Praça da República, década de 1910 |
Praça da República, final do século XX |
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