Em 1972, na segunda série do primário, entrou em nossa classe uma colega recém chegada da Coréia: a Shum Mi Moon. Ela era meio tímida, falava pausadamente, muito boazinha e eu logo fiquei amiga dela.
Eu era muito curiosa e queria saber por que ela tinha vindo morar no Brasil. Ela me contou que os pais eram professores universitários na Coréia e que o que estavam ganhando não dava para sustentar a família, ela tinha mais irmãos. Mas o que me chamou a atenção foi o que ela fez questão de frisar em suas palavras: na Coréia, professor é muito respeitado, não é como aqui.
Fiquei com aquilo na cabeça, pois meus pais eram professores, numa época em que tudo o que um professor pedia numa sala de aula era respeitado. Será que ela queria dizer que as pessoas davam o devido valor no seu país e aqui não, o chamado reconhecimento, acho que era isso o que ela quis dizer.
Um dia, nossa professora, D. Ethel Koyranski, já falecida, me pediu para que eu acompanhasse a Shum até o consultório médico, naquela época ainda no porão da escola ( no centro de puericultura , que foi fechado naquele mesmo ano), pois a Shun tinha picadas de pernilongos pelo corpo inteiro e a professora achou que podia ser coisa piór. Descemos nós duas pelo elevador pantográfico, coisa proibida para alunos, mas naquele dia foi diferente, tínhamos o aval da professora.
O médico a examinou e disse que devia ser uma reação alérgica à comida.
Chegando na classe, relatei o dianóstico, pensando, com a meu vasto conhecimento médico dos meus 8 anos de idade, que aquele profissional não sabia nada sobre alergias ou picadas de pernilongo; o que acabei descobrindo e confirmando quase 40 anos depois, ao conversar com uma amiga coreana que me relatou que as crianças de sua colônia , ao chegarem ao país, eram inexplicavelmente atacadas por pernilongos e viviam cheias de mordidas pelo corpo, como se fosse catapora. Estranho , não é?!
O fato é que lembro-me de como nos anos 70, muitos alunos recém chegados desse país foram recebidos na escola e como eram excelentes alunos, destacando-se principalmente em matemática. A Shum estudava também piano e logo ficou amiga da colega Eliane Yoshida, viviam trocando partituras. Em que país do mundo um japonês , um coreano e um judeu tornariam-se amigos inseparáveis e em que escola isso tudo aconteceu, pra variar? Na escola onde não havia diferenças entre raças, cores , religião e classes sociais, o Instituto Caetano de Campos.
Nesse ano, após procurar nossa turma e conseguir achar 90 deles, infelizmente não consegui achar a querida Shum. Se alguém tiver uma pista, por favor entre em contato.
Shum segurando o diploma da oitava série, acompanhada pela diretora Deyse Zenaro Nogueira |
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