quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O terceiro andar do Caetano de Campos



Antonio Cândido narra no filme acima, a criação da USP, com a colaboração de Fernando Azevedo, que era diretor do Instituto de Educação Caetano de Campos e como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras funcionou no terceiro andar de 1937 à 1949.

Abaixo, a história mais rica de todos os tempos em que o Caetano de Campos existiu: o berço da Educação que serviu de modelo para todo o Brasil e descubra porque foi construído o terceiro andar.


Um aspecto importante da reforma de 1920, que contava do anteprojeto, mas que não chegou a efetivar-se, diz respeito à criação de uma Faculdade de Filosofia, Ciências, Letras e Educação. Porém essas iniciativas fizeram com que o assunto passasse a ser discutido:  Lourenço Filho, na entrevista que concedeu a Heládio Antunha descreveu muito bem aquela vinculação indireta. 
Quando em 1930/31, ocupamos a direção-geral do ensino em São Paulo, pretendemos fazer ressurgir a idéia da Faculdade de Educação, da reforma de 1920, em novos termos. Na impossibilidade de obter adesão à idéia pelo governo provisório, sobretudo pelos argumentos de economia,, contentamo-nos, então, em criar um Curso de Aperfeiçoamento pedagógico na Escola Normal de São Paulo, dando a todo o seu conjunto o nome de Instituto Pedagógico. A criação e funcionamento imediato desse curso de educação que se estabeleceu no país facilitou a Fernando de Azevedo, logo depois a criação do Instituto de Educação, com destaque do ciclo de cultura geral (ginásio) e de outro ciclo técnico pedagógico, à semelhança aliás do que já se havia feito em 1932, no Rio de Janeiro, com Anísio Teixeira e nossa colaboração. Entre os objetivos desse Instituto estava o da formação de professores secundários, e dele veio resultar depois a Universidade Federal. Com a criação da Universidade de São Paulo, o Instituto de Educação foi a ela agregado, havendo tomado a feição final de uma secção de Pedagogia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, por exigência do padrão federal de 1939.(Lourenço Filho, in: Antunha, 1976, p.170). 
Em 1933, Fernando de Azevedo insistia no caráter técnico e profissional da preparação do mestre.Isto significava saber e saber ensinar, isto é, ter a ciência e a técnica adequada para transmiti-la. Criou , então o Instituto de Educação, onde eram oferecidos cinco modalidades de estudos superiores: Formação de Professores Primários, Formação de Professores Secundários, Formação de Diretores Escolares, Formação de Inspetores Escolares e de Aperfeiçoamento.
Atendiam a esses cursos cinco Seções: Educação,Biologia Aplicada à Educação, Psicologia Educacional, Sociologia Educacional e Prática de Ensino, cada qual desdobrada em matérias específicas.
Os primeiros laboratórios de pesquisas do Brasil foram criados: Laboratório de Biologia Educacional, Laboratório de Psicologia Educacional, Laboratório de Pesquisas Sociais e Educacionais, Laboratório de Estatística, além do Centro de Documentação de estudos Pedagógicos.O centro de Puericultura foi criado naquele ano.
Tendo em vista abrigar espacialmente o patamar em que esse novo Instituto foi colocado- de nível superior- Fernando Azevedo solicitou à Diretoria Geral do Ensino que discutisse a reforma do Prédio da Praça da República com a Diretoria de Obras da Secretaria da Viação. O prédio construído por Ramos de Azevedo fora projetado para receber mais um pavimento, até então possuía apenas dois.
Em Abril de 1933, as plantas do terceiro andar foram feitas e assinadas pelo Engenheiro-chefe Achilles Nacarato, da Secretaria de Obras Públicas. ( ele que projetou!!).
Naquela época, Fernando de Azevedo e Júlio de Mesquita Filho já faziam projetos para a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras ligadas à Universidade de São Paulo.
As obras de acrécimo do terceiro andar, no entanto, não contou com a anuência imediata do Estado, e no segundo semestre de 1934, o diretor compôs uma comissão de representantes de instituições, entre elas a Escola Normal Padre Anchieta, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Medicina Veterinária, a Escola Profissional Masculina e Feminina e o Liceu Rio Branco, para a redação de documento que solicitava a reforma do prédio do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo (IEUSP), além de apoiar publicamente seu projeto pedagógico.
Para convencer o Interventor Federal de que a reforma era fundamental, Azevedo alegou que dentro do espaço do prédio havia vários níveis de ensino e alunos de idades variadas, além do fato de que a antiga Escola Normal deu lugar a uma imensa quantidade de cursos, que estava em condições precárias e que o prédio projetado para atender à uma população de 170.000 habitantes dos quais 13.600 em idade escolar já  em 1933 a população subira para 1.070.000, sendo 112.000 em idade escolar e estava incompatível com a demanda.
A data em que a reforma começou não é esclarecida, porém o Interventor Salles de Oliveira, em julho de 1936, enviou mensagem ao Congresso Legislativo dizendo que as obras do Instituto estavam praticamente concluídos.
Foram feitas nessa reforma:
O terceiro andar, a sala que depois se denominaria Álvaro Guião, revestido com lambris de embuia e pintura imitação Gobelin ( lá que se encontra a parede pintada onde se baseou o emblema da escola da década de 1950) um bloco de sanitários dos dois lados do prédio, do primeiro ao terceiro andar, a substituição dos pisos de madeira dos corredores por pastilhas cerâmicas, as escadas de madeira por concreto armado e mármore branco português "Lioz".
Os móveis foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios. 
O auditório porém não havia sido construído naquela época, ficou pronto somente em 1941.
Fernando de Azevedo foi relator e autor do projeto de criação da USP, por convite de Armando de Salles de Oliveira e Júlio de Mesquita Filho. Com uma comissão que englobava membros de diversas faculdades como a de Direito, Escola Politécnica, Instituto Biológico entre outros, foi entregue ao Secretário da Educação Sampaio Dória para verificar os aspetos legais. 
O Instituto de Educação criado em 1933 por Azevedo, foi anexado à Universidade de São Paulo em 1934. Foi criado assim a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, que em 1937 une-se ao IEUSP no terceiro andar do prédio. 
Apesar de ambos os cursos apresentarem características semelhantes, um era complementar ao outro. Quem se formava na FFCL poderia tornar-se um especialista cursando o matérias ligadas à Pedagogia para obter a Licenciatura,  para poder dar aulas e deveria fazer estágios. Fazendo pesquisas ou altos estudos , poderia doutorar-se.
Muitos professores davam aulas tanto no Instituto como na FFCL.
No terceiro andar, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras tinha os seguintes cursos: Ciências Sociais, Filosofia, História, Geografia, Literatura entre outros. Outros cursos desta faculdade funcionavam em outros prédios, como o da Al Glete: Física, Química, Biologia, Geologia , História Natural e Matemática.
Muitos professores catedráticos vieram de países como França ( o maior grupo), Itália, Alemanha. As aulas eram ministradas em suas respectivas línguas, o que obrigava os alunos a estudarem diversos idiomas para entender estas aulas.
Em 1938, Adhemar de Barros, sem nenhuma explicação obriga o IEUSP a voltar à condição de Escola Normal, muitos afirmam que foi pressionado pela Igreja. Alguns professores ficam na Escola Normal, alguns mudam-se para a FFCL.
Com a Guerra, muitos professores retornam aos seus países de origem e seus assistentes assumem as cátedras (após serem examinados por uma banca). 
Em 1949 a FFCL muda-se para o prédio da Maria Antonia.

Fontes:
TanuriL. A Escola Normal do Estado de São Paulo- 1890-1930 São Paulo Feusp 1990
Monarcha,C.- A reinvenção da cidade e da multidão. São Paulo - Cortez/AA, 1990
Evangelista, Olinda- A formação Universitária do professor- O Instituto de Educação da 
Universidade de São Paulo (1934-1938)-NUP- 2002

5 comentários:

  1. Muito bom Patricia. Pena não ter a imagem do prof. Antonio Cândido naquele trecho do vídeo. A matéria ficou de um tamanho ideal. E o título dá uma enganada, só depois a gente percebe que se trata da criação da USP. Bem bacana. Parabéns! bjs. Marcia Lima

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  2. Para ficar na mesmice: Parabéns!
    Este blog é cada dia melhor, consegue fazer a gente ficar babando pela história da Caetano.
    Me empolga pensar, como ex-aluno, no que se pode fazer daqui pra diante, além de cuidar da preservação do nosso patrimônio histórico.
    bjs. Fernando Amaral

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  3. Patrícia, mais uma vez quero lhe dar parabéns, agora público, pelo excelente trabalho do seu Blog. Eloísa Salvato

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  4. Lindo trabalho, Patrícia. Somente elogios você pode receber. Parabéns.

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  5. Como faço para ter cópia de documentos de registro de minha avó GEORGETTE NACARATO filha de Dr. Pedro Nacarato e sobrinha de Aguiles Nacarato(engenheiro que projetou o 3 andar)? Se houver possibilidade envie para mim. Acho que estudou em 1910 à 1920

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