sábado, 5 de março de 2011

Boletins, carteirinhas, uniformes e epidemias...


     Em 1971, a escola chamava-se Instituto de Educação “Caetano de Campos “e ainda não tínhamos as cadernetas escolares com as páginas de presença , notas e recados .Era somente um boletim com as notas, comportamento e faltas. Nosso uniforme tinha sido recém modificado, pois até 1968 as saias das meninas eram azuis-escuras pregueadas e agora eram  feitas de um tecido xadrês preto e branco, com uma prega na frente, os bolsos das camisas ficavam em baixo e tinham um mapa de São Paulo.No ginásio as saias foram substituidas pela cor cinza-chumbo com uma prega na frente e era obrigatório o uso de um cinto vermelho. As calças dos meninos eram da mesma cor.       
     Tínhamos naquele ano aulas aos sábados, e as professoras tinham autonomia de dispensar os alunos em alguns daqueles dias para dar aulas de reforço para os mais fracos ( principalmente em matemática).
Em agosto de 1971, foi publicado durante o regime militar de Emilio Garrastasu Médici, a inclusão da Educação Moral e Cívica, Educação Física, e Educação Artística e Programas de Saúde como matérias obrigatórias, História e Geografia, seriam então denominadas  “Estudos Sociais “e Português: “Língua Pátria “. Naquele ano a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), eliminava a obrigatoriedade do exame de admissão para o ginásio e o que se conhecia por Clássico e Científico, se transformaria no curso Colegial.
      As aulas de religião ( facultativas) foram assessoradas pela CNBB ( Confederacão dos Bispos do Brasil), para as escolas da Rede Oficial ( públicas), visando  a formação da identidade e construção responsável do projeto de vida” dos alunos. O que aconteceu foi que no meio do ano pais voluntários ou normalistas que desejassem fazer estágio gratuito ministravam estas aulas, que a escola resolveu adotar. Os alunos que não fossem da religião católica, poderiam se retirar da classe e irem para a biblioteca, estas aulas continuaram até a nossa quarta série, não mais no ginásio.E permaneceu assim por anos. Um determinado livro era adotado para estas aulas.
     No final de 71 houve uma epidemia de caxumba e muitos alunos não precisaram fazer exame final para passar de ano ( foi o meu caso, mesmo com dor eu dizia: bendita caxumba!).No meu boletim aparece uma anotação a esse respeito.
     Na segunda série, em 1972, a professora corrige à mão os boletins com os novos nomes dados às matérias.As aulas aos sábados foram abolidas. As meninas podiam usar calças compridas com o mesmo tecido da saia. E os bolsos eram costurados na parte superior da camisa , agora com o emblema IECC, comprado no Esporte Tupã, ali na Rua do Arouche, lá eram também adquiridos os uniformes de educação física.
     Em 1973, a escola já aparece com uma letra a mais no nome, agora Instituto de Educação Estadual “Caetano de Campos”, ganhamos as carteirinhas que tínhamos de entregar diariamente para as serventes que se sentavam em mesas localizadas nas pontas dos corredores e no final do dia passavam em nossas salas para entregá-las já carimbadas com a palavra “presente”. Ela devolvia para algum aluno que teoricamente era encarregado de entregá-las aos colegas, mas normalmente eram atiradas como aviõezinhos.
     Em 1974 houve uma grande epidemia de meningite. O governo não dava conta de vacinar a população e a mais atingida era a da periferia. Demorou-se muito para conseguirmos ser vacinados em nossa escola, na região central da cidade.
     A vacinação ocorreu em duas etapas, a primeira dose nos foi dada na escola. Formavam-se filas nos corredores e os agentes de saúde munidos de suas pistolas ficavam dentro das classes, como se fosse um dia de votação.
     Eu me lembro de uma colega chamada Ana Maria reclamando muito na fila e se recusando a tomar a tal vacina, indignada, alegando que estávamos sendo feitos de cobaias,  a eficácia era motivo de debates na televisão. De nada adiantou, tomou uma picada no braço, debaixo de protestos e saiu com a maior cara feia de dentro da sala.
     A segunda dose foi nos dada num posto de saúde, ali nos arredores da escola, na Av. Ipiranga ou Av. São Luis. Fomos andando em filas da escola até lá.
Bem ,voltando às carteirinhas: no ano de 1976, há uma alteração no nome da escola: Escola de 1* e 2* graus “Caetano de Campos “, isso porque em 1975 houve uma mudança nas leis de ensino e colocam nossa escola na Rede Estadual de Ensino, deixando de estar numa categoria especial. 
    Em 1977 mudaram nosso uniforme do qual sentíamos o maior orgulho: no lugar dele tivemos que usar aventais brancos horripilantes sobre a roupa que usávamos no dia a dia.Começamos a perceber as diferenças sociais, coisa inimaginável em todos os anos que estudamos lá.
     Resumindo: faziam de tudo pra acabar com a qualidade de ensino,com os símbolos de nossa escola e com a nossa moral, mas com o corpo docente que tínhamos, com os valores que nos foi passado por quase uma década não conseguiram, só ganharam a guerra quando fomos expulsos de lá em 1977, quando o Secretário da Educação resolveu transformar o edifício criado para ser Escola Modelo num orgão público, a Secretaria da Educação. A escola então completaria 83 anos de existência, depois que saiu de lá nunca mais foi a mesma.A educação pública de qualidade morreu naquele mesmo ano, uma pena.


















Até 1970, os boletins eram como o modelo acima. Assinatura da diretora da época, D. Corintha





















Esses modelos foram criados em 1971 e utilizados até 1972, quando foram substituídos pelas cadernetas.


                                                1971- somente o ginásio tinha caderneta














































Notem a observação sobre a caxumba.























































Português foi substituído por Língua Pátria e História e Geografia por Estudos Sociais.
D. Carmela, diretora do primário, assinava nossos boletins.











































Ligeiramente falsificada, pois em 1976 estávamos na 6a série...
A partir de 1978 o modelo da caderneta era este acima.

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