sexta-feira, 11 de março de 2011

Jardim de Infância - Caetano de Campos


Lembro-me do dia em que fui com minha mãe e minha avó acompanhá-las ao jardim de infância do Caetano de Campos. Preciso explicar melhor: elas estavam indo aprender o modelo do meu primeiro uniforme, que há décadas havia sido criado, mas que com o passar dos anos foi se adaptando e se transformou no último modelo e permaneceu assim até o final da escola, quando saiu da Praça.
Era um vestidinho xadrez , com golinhas redondas, manguinhas curtas bufantes e por cima um aventalzinho branco, sem gola, que era amarrado com um laço nas costas, na altura da cintura. Um lacinho de fita de cetim vermelho era preso na gola com um pequeno alfinete de segurança. Meias brancas e sapatos pretos ( no meu caso, botas ortopédicas!). Os meninos alternavam entre shorts e calças de tecido azul-marinho, camisa branca e sapatos pretos.
Havia também o uniforme de educação física: sainha plissada branca e camiseta canelada, com um shortinho vermelhinho por baixo , shorts brancos nos dias de festas( que era de sarja e tinha elásticos nas pernas) e para os meninos shorts brancos e a camiseta canelada.
O jardim de infância havia sido fundado dois anos depois da construção do prédio principal, que havia sido inaugurado em 1894,ficando provisoriamente num antigo prédio na avenida Ipiranga e depois mudou-se em 1897  para uma edificação construída independentemente do prédio que estudamos.Esse prédio permaneceu até os anos 1940, quando foi demolido na gestão do  então Prefeito Prestes Maia, para dar lugar a abertura da av. São Luis.
Foi criado com a finalidade de liberar as crianças das famílias abastadas de suas governantas, pois naquela época as crianças não iam para a escola tão cedo.Foi uma novidade criada pelo Regime Republicano .
Foi trazido do exterior métodos de ensino, principalmente dos Estados Unidos e aplicados por anos consecutivos até sofrerem uma reforma em 1926, quando foi trazido da Escola Normal um método mais moderno e coerente para os padrões da época. Lembrando que havia uma independencia da Escola Normal em relação ao jardim da infância.
Desde o início, dava-se prioridade aos exercícios de linguagem, aos trabalhos manuais, a modelagem, desenho,números, cores, música, ginástica e brinquedos.
Por brinquedos entende-se brincadeiras de roda e cantos acompanhados por instrumentos musicais.
Aliás havia uma sala de música com instrumentos de verdade como piano,violinos, flautas, guitarras ( ou alaudes), xilofones e até mesmo duas harpas que no ano de 1969 quando entrei lá, ficavam encostadas num canto da sala de música, onde tínhamos aulas musicais com a D. Janete ao piano.
Aprendíamos muitas músicas relacionadas com festas que ocorriam durante o ano, além de outras educativas como a que dizia”Viva a árvore amiga, que agasalha os passarinhos, que dá flores, que dá frutos, que nos dá tudo que é seu”, entre outras tantas.
Os pais tinham que providenciar uma série de materiais, tais como lápis de cor, lápis de cera, canetinhas hidrográficas, tesoura ( sem ponta!), cola tenaz ( e desgrude se for capaz) e tudo isso ficava dentro de um bolso fechado com zipper das nossas capinhas vermelhas.
As capinhas eram feitas de sarja , onde o nome do aluno deveria ser bordado ou pintado na parte superior e um desenho ou um bordado daqueles vendidos nos armarinhos eram aplicados bem abaixo do zipper.Tudo a gosto dos pais, só deveriam seguir o modelo. Então a capinha era personalizada. A minha tinha um Toppo Giggio, personagem adorado pelas crianças da época.
Essa capinha aparece em fotos do jardim de infância já nos anos de 1930, porém com tecido estampado, mas perdurou por todas as gerações até terminar a escola , em 1977.
Quando eu entrei na escola em 1969, fui estudar num anexo, uma casa pré-fabricada que ficava num pátio aberto, ao lado da caixa de areia, que era o parquinho do jardim, que depois foi totalmente demolido nos anos 1970 e que era por onde entrávamos todos os dias.
Além da sala de música, havia uma sala de brinquedos, com um tapete azul. Íamos lá de vez em quando e adorávamos. Havia uma grande estante coberta or cortinas brancas e atrás destas cortinas escondiam-se brinquedos diversos e muitas marionettes.
Na frente da sala havia uma televisão “oca”, que em algum tempo havia servido pra alguma coisa que na nossa época já não era mais usada.
As professoras, muitas delas recém saídas do curso Normal, encenavam teatrinhos de marionetes e ninguém nem piscava. Tínhamos que ficar sentados de pernas cruzadas como indios enfileirados,para o ambiente ficar tranquilo, senão todo mundo ia querer avançar nos brinquedos ( pra que estavam lá então?).
Nas festas juninas ensaiávamos com nosso par, haviam apresentações no teatro e todos participávamos, mas a grande festa foi a realizada em 1970: a festa do índio.
Eu que estudei no jardim no período da tarde, tive a oportunidade de conhecer todos os alunos do jardim do período da manhã. Juntaram-se dezenas de crianças, como nas fotos postadas com o título “Nossa tribo”.
O mais interessante ao ver estas fotos, é que nos anos seguintes estudei com a maioria daqueles indiosinhos, que me acompanharam até o final do ginásio.
Naquele mesmo ano, a nossa festa da Pipoca, ou a famosa festa junina foi realizada no ginásio coberto da outra unidade infantil do Caetano de Campos, que ficava bem em frente do Parque da Aclimação. Esta unidade que não tem nada a ver com o Caetano de Campos da Pires da Mota ( inaugurado em 1978), ficava no mesmo prédio que abrigava o Instituto dos surdos.
Alguns de nossos colegas estudaram lá: Glaucia e Gilberto A., Mônica Cest., Eliane Y. , Helena H. entre outros.
Voltando ao prédio da Praça da República:
As salas de aula tinham mesinhas de madeira e cadeirinhas, onde sentávamos formando grupinhos de 8 crianças. Mas havia uma sala bem grande com mesinhas triangulares, revestidas de fórmica branca, formando octágonos. Lembro muito bem de desenhar muito durante as aulas: eu tinha várias versões do desenho minha casa eu e minha família, outra do menino Jesus, a manjedoura, os reis magos e a estrela cadente ( nem católica sou, mas fiz um milhão destes),dobraduras, colagens, recortes , enfim, os trabalhos que fazíamos no semestre eram enviados aos nossos pais dentro de uma pasta feita de papel craft e desenhados na capa por nós mesmos.
Na saída das salas, haviam sempre murais montados pela D. Diva, uma senhora magrinha de cabelos brancos, com a ajuda de outras professoras, onde apareciam temas variados como a chegada da primavera, dia do índio, Páscoa, etc…
Nossa diretora era a D. Irene, uma senhora baixinha, gordinha , que usava óculos e que todas as crianças adoravam. Ela até aparece numa foto nossa de 1971, onde houve um passeio das classes da primeira série no sítio do Milton K., ou seja, nos acompanhou até mesmo depois de termos acabado o jardim.
No final do curso, que se dividia em primeiro, segundo e terceiro graus ( este de crianças mais velhas), havia uma festa de formatura com a presença dos pais e recebíamos nossos diplominhas. Passávamos automaticamente para a primeira série do primário.Ali terminava uma etapa de nossas vidas, inesquecível pra todos nós.

7 comentários:

  1. Acabo de viajar pelo Jardim da Infância!!!!
    Lembro que o lacinho era fixado com um botãozinho de pressão e eu realmente arrancava o bendito assim que entrava no carro.
    Nas fotos do São João: meu vestido tinha sido feito pela minha mãe. Era ...de flanela e eu ficava muito feliz porque não sentia frio.A cada ano ela cuidava de modificar alguma coisa: um lacinho diferente, trocava as rendinhas.... a base era sempre a mesma e eu adorava ele!

    Anna Paula

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  2. Foi mesmo uma viagem no tempo. Seus relatos são muito precisos e resgatam cenas que estavam adormecidas na memória. Um das coisas que lembrei é o nome da minha professora do pré-primário, a Yara, filha da D. Irene, diretora do Jardim da Infância. As outras duas professoras que trabalhavam na unidade da Aclimação, dentro do Instituto Helen Keller, eram as irmãs Maria Augusta (maternal) e Maria José (jardim). Adorei!

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  4. Olá Patricia,acontecem coisas nas nossas vidas que depois agente entende o pq,por causa do extravio da minha mala conheci a o marido da Marcia Borghi que ao fazer a retirada contou que ela e as irmãs estudaram no Caetano de Campos, pois é estudei e hoje trabalho lá, todos os dias lembro do passado, das festas, do porão enfim da infância, já chorei muito em ver o material que vc conseguiu, fiz uma materia sobre a escola para o Antena Paulista que deverá ir ao ar nas próximas semanas e gostaria que vc entrasse em contato comigo para eu poder redirecionar algumas fotos, isto é se ainda a edição não estiver pronta, mas mesmo assim a Educação está fazendo um documentário de Ex-Caetanistas mas por motivos buracraticos ainda não aparece no site, mas fica aqui o convite para todos participarem e contarem suas estórias na frente da camera do CRE www.crmariocovas.sp.gov.br. a Marcia tem meu contatos. Parabéns pela iniciativa.
    Denise

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  5. Olá a toda turma meu nome é Andre Santos, também estudei no Caetano de Campos, junto com O Casa Grande, quem lembra que era O Pai do Casa quem dava aulas de fisica, tem tbm a professora de Franceis Madame Boquinha apelidada por nós, fato triste também quem se lembra do professor Marcio de OSPB que foi retirado pelo exercito da sala de aula tava presente nesse dia, O velho piano pra aulas que nunca participei, as reuniões la na avenida são joão no coimbra da juventude comunista do caetano de campos otimos dias, abraços a todos,

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  6. Olá Patricia,

    Meu nome é Ponciana Angélica Varoli. Eu comecei no Caetano com quatro anos de idade, em 1964. Escola obrigatoria, ginasio e 2 anos Colegial. Tenho lindas lembranças da minha infância querida nesta micro sociedade, cheia de sonhos e projetos.

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  7. uhuhuhuh bom de mais ne gatos

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