sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cartilhas de Alfabetização Escritas por Professores da Escola Normal da Capital do Estado de São Paulo

                                                                                                   Maria do Rosário Longo Mortati
                                                           Professora Titular UNESP-Universidade Estadual Paulista
                                                                                         Campus de Marília-SP-Brasil

Ensinar (como professores) e aprender  (como alunos) a ler e a escrever, na escola, e por meio de cartilhas de alfabetização, esses são aspectos de uma tradição fundada entre o final do século XIX e as décadas iniciais do século XX, a qual, transmitida por meio de certa cultura escolar, foi-se consolidando, nos embates com outras tradições, ao longo do século passado.
Para a fundação dessa tradição, contribuíram diretamente muitos professores da Escola Normal da Capital do Estado de São Paulo. Eles integravam a elite educacional que, após a reforma republicana da instrução pública paulista, iniciada em 1890, foi responsável pela proposição e implantação de desenvolveram modelos de instrução pública seguidos em outros estados brasileiros.
Na base desses modelos, encontravam-se propostas então inovadoras para o ensino inicial da leitura, as quais se centravam no método analítico. Em oposição aos métodos sintéticos — alfabético, fônico, ou silábico — utilizados no período imperial e considerados tradicionais pelos educadores republicanos, o método analítico visava a propiciar à criança a compreensão do sentido de ler; por isso, dever-se-ia iniciar o ensino da leitura pela “historieta”, para, depois, ensinar palavras, sílabas, letras. Muitos dos professores da Escola Normal de São Paulo protagonizaram acirradas disputas em defesa do método analítico para o ensino inicial da leitura, pois consideravam que esse método era o mais moderno e mais adequado aos anseios republicanos de modernização política, social e educacional.
Com o objetivo de divulgar suas propostas e ensinar a aplicá-las, esses professores escreveram cartilhas para o ensino inicial da leitura e da escrita, as quais tiveram muitas edições ao longo de muitas décadas e foram utilizadas também em outros estados da federação, tendo contribuído para a formação de muitas gerações de professores e alunos brasileiros. Essas cartilhas eram publicadas por editoras que, sobretudo na primeira metade do século XX, foram-se especializando na produção de livros didáticos, a fim de atender às crescentes demandas escolares e às políticas de avaliação e compra de livros didáticos pelos governos estaduais, para indicação aos professores. Essas editoras, ainda, firmavam contratos com  professores de destaque, muitos deles vinculados à Escola Normal de São Paulo, consolidando-se, assim, fecunda parceria que contribuiu para o desenvolvimento do mercado editorial de livros didáticos produzidos por brasileiros.

Já em 1880, fora publicada a Cartilha da infância, escrita por Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, professor da Escola Normal de São Paulo e por ela diplomado. É autor da Cartilha da infância: ensino da leitura, publicada em 1880, pela Livraria Francisco Alves e baseada no método da silabação. Em 1890, essa cartilha foi modificada e ampliada por Romão Puiggari, diplomado em 1888 pela Escola Normal de São Paulo e autor do hino oficial- "Salve Escola"-da Escola "Caetano de Campos". Cartilha da Infância atingiu sua 233ª edição, em 1992. 
No entanto, a primeira cartilha que os educadores da época consideravam mais afinada com o método analítico era Primeiro Livro de Leitura, escrita pela professora Maria Guilhermina Loureiro de Andrade e publicada presumivelmente no final da década de 1890.
Ela e a professora americana, Marcia Priscila Browne, foram as primeiras diretoras da Escola-Modelo Primária anexa à Escola Normal, tendo sido convidadas pelo Dr. Antonio Caetano de Campos para dirigir, respectivamente, a seção feminina e a seção masculina dessa escola anexa. O Primeiro Livro de Leitura se baseava no método da palavração, passando a ser conhecido como o "método do gato", porque a primeira lição girava em torno de uma criança e um gatinho, que brincavam com uma bola.





          Capa de Cartilha de Infância ( 109* edição - 1924) , de Thomaz Galhardo
            Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP



A partir da década de 1900, outros professores da Escola Normal de São Paulo, na qual também se diplomaram, escreveram cartilhas analíticas, além de livros de leitura e de outras matérias escolares.


*Arnaldo de Oliveira Barreto (1869-1925) diplomado em 1891, foi discípulo de Caetano de Campos. É autor de duas cartilhas,  além de livros de leitura.
Cartilha das Mães foi editada, presumivelmente, entre o final do século XIX e início do século XX, pela Tipografia Siqueira, e, a partir da 12ª. edição, de 1911, pela  Livraria Francisco Alves. Essa cartilha chegou à 84ª. edição, em 1963.
Cartilha Analytica, de Arnaldo de Oliveira Barreto, foi publicada em 1909, pela Livraria Francisco Alves (RJ), com sucessivas edições até a 74ª., de 1967.
Barreto é co-autor, juntamente com Ramon Roca Dordal e Mariano de Oliveira, também professores da Escola Normal de São Paulo, do documento oficial InstRucções praticas para o ensino da leitura pelo methodo analyticO - Modelos de lições, expedido pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, em 1914.

                        Capa de Cartilha das Mães ( 7* edição-1956), de Arnaldo Barreto
               Fonte : Centro de Referência em EducaçãoMário Covas-EFAP/SEE-SP



                              Capa de Leituras Moraes ( 1900), de Arnaldo  de Oliveira Barreto
                  Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


                                 Capa de Primeiras Leituras ( 1905), de Arnaldo de Oliveira Barreto
                 Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


            Capa de Cartilha Analítica ( 63* edição- 1955) , de Arnaldo de Oliveira Barreto
                   Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


Luiz Cardoso Franco diplomou-se em 1887. É autor da cartilha Arte da Leitura, publicada em 1902. Essa cartilha foi fortemente influenciada pela Cartilha maternal ou Arte da leitura (1876), do poeta português João de Deus, baseada no método da palavração e que foi divulgada no Brasil, na década de 1880, especialmente por Antonio da Silva Jardim, professor da Escola Normal de São Paulo.

                                                       Capa de Cartilha Maternal, de João de Deus
                    Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP




Ramon Roca Dordal, de origem espanhola, também se diplomou pela Escola Normal de São Paulo. É autor de Cartilha Moderna, publicada presumivelmente em 1902, por Spíndola, Siqueira e Cia..
Dordal é co-autor do documento oficial  InstRucções praticas para o ensino da leitura pelo methodo analyticO - Modelos de lições, expedido pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, em 1914.


*Theodoro Jeronymo Rodrigues Moraes (1877-1956) diplomou-se pela Escola Normal Secundária de São Paulo, em 1906. É autor dos seguintes livros didáticos destinados ao ensino da leitura a crianças: Meu livro: primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico (1909); Meu livro: segundas leituras de accôrdo com o methodo analytico (1910?); Sei lêr: leituras intermediárias (1928); Sei lêr: primeiro livro (1928); e Sei lêr: segundo livro (1930).
A cartilha Meu livro: primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico foi elaborada com base em sua experiência como professor primário e a partir de plano sugerido por Oscar Thompson, Diretor Geral da Instrução Pública do estado de São Paulo, entre 1909-1910.
Theodoro de Moraes é também autor de Cartilha do operário: para o ensino da leitura, pela processuação do methodo analytico, aos adolescentes e adultos, que foi publicada em 1918, pela Typographia Augusto Siqueira, com 2ª. edição em 1924. Essa cartilha foi um dos primeiros materiais didáticos para a alfabetização de adultos, tendo sido adotada oficialmente nas escolas do Estado de São Paulo.
É também co-autor, juntamente com Miguel Carneiro, J. Pinto e Silva e Mariano de Oliveira, do documento oficial Como ensinar leitura e linguagem nos diversos annos do curso preliminar, expedido pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, em 1911.

*Carlos Alberto Gomes Cardim (1875-1938) diplomou-se em 1894 e também atuou como 
Diretor da Escola Normal de São Paulo. É autor da Cartilha Infantil pelo methodo analytico, publicada presumivelmente em 1910, pela Editora Augusto Siqueira, tendo chegado à 9ª. edição em 1919 e utilizada nos estados de São Paulo e Espírito Santo.


Capa de Cartilha Infantil pelo Méthodo Analytico (9* edição - 1919), de Carlos A.Gomes Cardim
Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


*Francisco Furtado Mendes Viana (1876-1935) diplomou-se em 1895. É autor de Leitura preparatória (1908), Cartilha: leituras infantis [1912] e Primeiros passos na leitura (1915). A 1ª. edição de Cartilha: leituras infantis foi publicada presumivelmente em 1912, pela Livraria Francisco Alves (RJ), com sucessivas edições até a 48ª., de 1945. As edições da cartilha foram aprovadas para utilização nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina e Amazonas.




                               Capa de Cartilha (48* edição - 1945), de Francisco Viana
             Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


Mariano de Oliveira (1869-19??) diplomou-se pela Escola Normal de São Paulo em 1888. É autor de Nova cartilha analytico-sinthetica, publicada em 1916 pela Companhia Melhoramentos de São Paulo (Weiszflog Irmãos Incorporada), com última edição, a 185ª, em 1955. Foi também utilizada em muitos estados brasileiros. É também autor de Cartilha ensino-rápido da leitura, publicada em 1917, pela Melhoramentos, tendo sido editada até 1996.
É co-autor, juntamente com Arnaldo Barreto e Roca Dordal, do documento oficial InstRucções praticas para o ensino da leitura pelo methodo analyticO - Modelos de lições, expedido pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, em 1914. É também co-autor, juntamente com Miguel Carneiro, J. Pinto e Silva e Theodoro de Moraes, do documento oficial Como ensinar leitura e linguagem nos diversos annos do curso preliminar, expedido pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, em 1911.


         Capa de Cartilha Ensino-Rápido de Leitura ( 196* edição) ,  de Mariano de Oliveira
       Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


*Manoel Bergström Lourenço Filho (1894-1970) diplomou-se em 1917. É autor de Cartilha do Povo – para ensinar a ler rapidamente, publicada em 1928 pela Companhia Melhoramentos ,  junto à qual, naquela época, Lourenço Filho atuava como editor , tendo sido publicada até a 2201ª. edição, de 1986. É também autor da cartilha Upa, Cavalhinho!, publicada em 1957, pela Melhoramentos, tendo alcançado 12 edições, até 1970.


                       Capa de Cartilha do Povo ( 116* edição) , de Manoel B.Lourenço Filho
                  Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


        Capa de Cartilha Upa, Cavalinho! ( 12* edição) , de Manoel Bergstrom Lourenço Filho
                   Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP



*Altina Rodrigues de Albuquerque Freitas diplomou-se em 1902. É autora de Cartilha – primeiro livro, publicada em 1920 e dedicada à memória de Gabriel Prestes.

*Benedicto Maria Tolosa diplomou-se em 1891. É autor de Cartilha de Alfabetização, publicada presumivelmente em 1923.



               Capa de Cartilha do Operário (2* edição - 1924), de Theodoro de Moraes
                    Fonte:Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP





*Antonio Firmino de Proença (1880-1946) diplomou-se em 1904. É autor de Cartilha Proença, publicada pela Editora Melhoramentos em 1926, tendo alcançado 84 edições, até a última, de 1955. Foi um dos últimos de sua geração intelectual a se destacar como escritor didático e sua cartilha foi uma das últimas elaboradas de acordo e programaticamente, com o método analítico para ensino da leitura e da escrita.




            Capa de Cartiha Proença ( 1* edição - 1926) ,  de Antonio Firmino de Proença
                  Fonte:Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP





*Claudina de Barros, também diplomada pela Escola Normal de São Paulo, é autora de Cartilha fácil, publicada pela Tipografia Siqueira, presumivelmente em 1932; a partir de 1935, a cartilha passou a ser publicada pela Companhia Editora Nacional, tendo alcançado 40 edições, até a última, de 1957.




                               Capa de Cartilha Facil , de  Claudina de Barros
                  Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP




*Renato Sêneca Fleury (1895-1980) diplomou-se em 1912. É autor de Na roça: cartilha rural para alfabetização rápida, publicada em 1935, pela Editora Melhoramentos, tendo alcançado 133 edições, até a última, de 1958.




                    Capa de Cartilha na Roça (47* edição-1944), de Renato Sêneca Fleury
                    Fonte : Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP


Capa de Brincar de Ler- Livro de Figuras ( 1939) , de Renato Sêneca Fleury
               Fonte : Centro de Referência em Educação  Mário Covas-EFAP/SEE-SP


*Cecília Bueno dos Reis Amoroso também se diplomou pela Escola Normal de São Paulo. É autora da cartilha Onde está o patinho?, publicada em 1955, pela  Melhoramentos; a partir de 1972, passou a ser publicada pela Editora Lotus, tendo co-autoras; em 1979, passou a ser publicada pela Editora Saraiva.




             Capa de Onde está o Patinho? ( 1955) , de Cecília Bueno dos Reis Amoroso
               Fonte: Centro de Referência em Educação Mário Covas-EFAP/SEE-SP




Nenhum comentário:

Postar um comentário