quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Música na Escola Caetano de Campos

O número de canções escolares produzidas depois das primeiras reformas republicanas é grande. Hinos, canções escolares, marchas, cantos de despedida, de encerramento, de entrada. Cada momento do trabalho escolar possui uma canção específica.
Encontramos na temática dessas canções os mesmos valores e preceitos que permeiam os discursos oficiais sobre a sociedade brasileira e o papel da escola na construção da sociedade.
As canções assumem assim o papel de propagadoras desses valores que quer se incutir. Se o discurso, quer seja escrito ou falado ecoa por entre os letrados, a canção é o veículo mais eficiente para os estudantes e para grande parte da população.
As músicas populares que acompanham o cotidiano das classes populares é substituido por essas canções com os valores que se quer incutir.
Até mesmo Pestalozzi, um dos educadores em voga no discurso republicano baseado no método intuitivo aparece nas letras de hinos.




                                                 Relatório de Alfredo Pujol- 1895






No acervo da escola encontramos um livro de músicas, datado de 1897, onde se encontram diversos exemplos de hinos e marchas escritos pelos professores da Escola Normal e mesmo até de figuras conhecidas como , por exemplo o escritor Casimiro de Abreu.




O interessante é perceber que inúmeros mestres formados pela Escola e atuantes em materias diversas também compunham letras musicais.


 Um exemplo é João Kopke. Esse educador formado pela Escola Normal e proprietário da famosa escola  positivista Neutralidade ( onde até Caetano de Campos deu aulas), escreveu letras de músicas: 


                                                     Hino com marcha de João Kopke







René Barreto, formado em 1895 pela escola Normal foi poeta, escritor de livros didáticos como "História da Pedagogia" e livros de matemática, escritor de peças teatrais e foi autor de diversos hinos escolares entre eles "Deus te salve, Brasil" e autor do primeiro Hino da Escola Normal; era irmão de um outro grande mestre formado pela Escola Normal:Arnaldo de Oliveira Barreto que dirigiu a Escola-modelo.




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Um dos diretores da Escola de 1928 à 1930 Honorato Faustino também. Mas este tem uma história interessante:
Durante a inauguração do prédio da Praça da República , em 1894, ocorreram 5 festas a fim de “solennisar algumas datas notaveis de nossa historia”, nas quais afluía um público considerável: 21 de abril, 13 de maio, 8 de junho, 29 de novembro e 7 de dezembro. (Prestes, 1895, p.179).
Ao mesmo tempo em que serviam para marcar datas cívicas consideradas importantes para a nacionalidade, serviam como momentos para mostrar a escola recém inaugurada.A escola republicana, que já se fazia ver através do seu suntuoso edifício, mostrava-se nessas festas como irradiadora de um saber e de um “ethos”republicano. Os exames eram festivos, com poesias declamadas por alunos, demonstrações de ginástica, exercícios militares, representações teatrais e apresentações musicais nas quais se destacava os hinos escolares cantados em coro e regidos pelo professor de música ou pelo diretor.



“A parte musical da solemnidade esteve sob regencia do professor Honorato Faustino de Oliveira …
Fez questão que na festa inaugural só figurassem alumnos da escola” – O Estado de São Paulo 3/08/1894

A música tinha também a função moralista e patriótica,  “modelos indispensáveis para a civilização moderna”.

                                           Sou Brasileiro- letra de Luiz Galvão

Além disso percebía-se que a música era um diferencial de uma escola antiquada e outra moderna e dinâmica que intercalava marchas, músicas e exercícios de ginástica.

Música de Romão Puigari, o mesmo autor do Hino Salve Escola- Hino oficial do Caetano de Campos

Durante todos os 83 anos da Escola Caetano de Campos na Praça da República, mestres e maestros compuseram essas músicas, que foram publicadas e difundidas por todo território nacional.


Fonte:
No Compasso do Progresso: Aílton Pereira Morila;
Revista Brasileira de História da Educação- jul/ dez 2006


Poliantéia Comemorativa Cem anos da Escola Normal

Gilioli, R de S.P.- “Civilizando pela música”: a pedagogia do canto orfeônico na escola paulista da primeira república (1910-1930). Dissertação Mestrado  em Educação FE USP -2003

Jardim , V.L. G.- Os sons da República : o ensino da
música nas escolas públicas de São Paulo na primeira república- 1889-1930- dissertação de mestrado em Educação- Fac. De Educ. Da PUC SP-2003

Hilsdorf, M.L.S.- Francisco Rangel Pestana: jornalista, politico, educador-1986- tese de doutorado em Educ. Fac. De Educação da USP



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