No Brasil, dois liceus franceses foram fundados: um no Rio, em 1916, e outro em São Paulo, em 1923. Este último é fruto direto da atividade de Georges Dumas, um representante da França no Brasil com a finalidade de divulgar a cultura francesa e criar “produtos franceses "a serem consumidos fora da França.
Esteve inúmeras vezes no Brasil, além de outros países na América Latina.
Destas viagens percebeu que a melhor maneira de se divulgar a cultura francesa era através da criação de liceus, e fez aqui inúmeras amizades com o intuíto de levar adiante este projeto.
Georges Dumas
Em São Paulo aproximou-se de Ruy de Paula Souza que fundou em 1923 o Liceu Franco- Brasileiro, uma das primeiras tentativas de seriação sistematizada do ensino secundário no Brasil.
Ruy de Paula Souza nasceu em Itú a 2 de fevereiro de 1869. Fez seus estudos primários e secundários em Paris, bacharelando-se em Letras na Sorbonne.
Em 1904 fez concurso e, sendo habilitado, conseguiu a cátedra de Francês na Escola Normal.
Foi diretor da Escola Normal entre 1910 e 1914.
Cavaleiro da Legião de Honra Francesa, foi com o arquiteto Ramos de Azevedo, Alfredo Pujol, Victor da Silva Freitas e Georges Dumas, um dos fundadores da “Union France-Amerique” cujo objetivo era a aproximação intelectual entre franceses e brasileiros.
Ruy de Paula Souza
O liceu de São Paulo tem para Georges Dumas valor de modelo para todos os países onde a colônia francesa é pouco importante e o contexto interno é nacionalista. Ele tem um diretor brasileiro, seus professores também o são, segue os programas brasileiros e a pedagogia indicada pela Escola Normal de São Paulo.
O grande mestre da Escola Normal, Cyridião Buarque, também é um de seus fundadores, além de José Carlos de Macedo Soares,que estudou no Caetano de Campos e era filho do mestre da Escola Normal José Eduardo de Macedo Soares.
Outros fundadores: Julio Mesquita, Frederico Steidel, José Frederico Borba, João Alves de Lima, Reynaldo Porchat,Carlos Botelho, Bittencourt Rodrigues, Oscar de Sá Campello.
Portanto, o Licée Pasteur , que no início chamava-se Liceu Franco- Brasileiro originou-se como muitas outras escolas do Brasil, dos professores da Escola Normal da Praça.
Muitos alunos eram matriculados no sistema de internato e só voltavam para casa nos finais de semana.
Muitos alunos eram matriculados no sistema de internato e só voltavam para casa nos finais de semana.
Outro fato curioso, foi quando George Dumas apresentou para Julio de Mesquita Filho os professores que iriam dar aulas na recém criada Universidade de São Paulo, que funcionou no terceiro andar na Escola Caetano de Campos, num depoimento de Claude Lévi-Strauss, percebe-se quanto foi “diferente “a estadia destes professores aqui no Brasil:
"Meus colegas da missão universitária francesa e eu éramos, quase todos, pequenos professores em liceus de província cujo desejo de evasão, cujo gosto pela pesquisa haviam chamado a atenção de Georges Dumas. Após termos vivido em alojamentos muito modestos, nos instalávamos em vastas casas particulares com jardim nas quais nossas esposas seriam servidas por domésticas (a primeira em nossa casa foi uma mulata muito bonita que tivemos de despedir porque em nossa ausência tomava os vestidos de minha mulher par ir dançar nos clubes carnavalescos; depois, duas encantadoras irmãs portuguesas que não tinham, somadas suas idades, quarenta anos, e que foi preciso contratar juntas, pois não queriam se separar).
Embora em São Paulo a altitude livrasse o clima do abafado calor tropical, podiam se vestir roupas mais leves que na França. Não estávamos habituados ao luxo. Um deles era o alfaiate vir tomar nossas medidas e fazer as provas em domicílio. O baixo preço dos produtos alimentares e dos serviços nos daria a impressão de termos escalado vários degraus na escala social. Profissionalmente também, uma vez que éramos promovidos do ensino secundário ao ensino superior, tendo por alunos homens e mulheres jovens geralmente de nossa idade e que às vezes a ultrapassavam."
Claude Lévi-Strauss- 1935
Jean Maugüé relata igualmente que os salários que os professores recebiam eram muito importantes: "Assim nós pudemos comprar carros americanos, e Braudel, que não gostava de dirigir, se deu o luxo de ter um chofer particular italiano" (Maugüé 1972: 93).Fontes:
A política cultural da França no Brasil entre 1920 e 1940: o direito e o avesso das missões universitárias- Hugo Suppo- Depto. de História Moderna e Contemporânea – UERJ
Poliantéia Comemorativa dos Cem anos da Escola Normal- pgs 96 e 108
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