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1971 |
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2011 |
Discurso
Memória é uma coisa interessante, traz pra gente coisas maravilhosas de um lado e muitas vezes tristes do outro.
Eu tenho uma boa memória. Às vezes me passo por louca: cumprimento uma pessoa que nem sabe quem eu sou, ou conto algum caso que aconteceu e a pessoa diz que inventei; tento apagar a raiva que senti algumas vezes , porque certas lembranças só servem pra nos dar uma bela úlcera de estomago!
Há coisas na vida , porém ,que a gente nunca esquece, tendo boa memória ou não: a nossa escola, nossos colegas e professores , mesmo que sejam memórias apagadas , alguma coisa sempre sobrou, normalmente são lembranças felizes, porque é uma época de inocência, de ingenuidade, onde o nosso mundo se resumia , na maior parte das vezes, apenas no que acontecia naquela escola.
Eu como voces, tive a oportunidade de estudar na maior instituição de ensino do nosso país, o Caetano de Campos. Sair com aquele uniforme da escola pelas ruas e ser deparado com alguém perguntando e exclamando : você estuda no Caetano, era coisa corriqueira, dava-nos orgulho e sabíamos que a nossa escola era reconhecida por sua excelência no ensino. Por que será que era tão boa? Como havia se passado tanto tempo e permanecido como modelo de educação por tantas gerações da mesma maneira como foi criada?
A resposta certamente é essa : as pessoas. Pessoas qualificadas, comprometidas, apaixonadas e felizes por estarem realizando um trabalho com resultados, com reconhecimento ,com respeito , com carinho e amor recebidos em troca de tudo isso.
Eu fui uma felizarda, do primeiro instante que pisei naquele prédio, que sempre amei e que fui sorteada, com apenas 4 anos de idade e que saí com 14, onde tive os melhores 10 anos de minha vida.
Começando pelo jardim de infância, onde D. Irene, nossa querida diretora circulava pelos corredores e conhecia cada um de nós pelo nome, nossas professoras dedicadas, cuidavam de nós pequeninos, como se fôssemos pequenas preciosidades, ensináva-nos a cantar, a nos organizar, a nos comportar ,a nos relacionar e ,mais importante, deixar-nos sermos nós mesmos, tratando-nos com muito amor e dignidade.
E nós crianças, gostávamos uns dos outros, independentemente das nossas classes sociais,raças, cores ou religião, valores perpetuados por toda nossa vida, prova disso é estarmos aqui todos reunidos.
No primário, acertei na loteria: caí duas vezes com a D. Kiyome. Devo dizer que os colegas que cairam com a D. Edith, D.Adercy e outras professoras não foram menos sortudos que eu , porque o que a nossa escola sempre teve foi profissionais do mais alto gabarito, ou seja, todos nós fomos entregues nas mãos dos maiores educadores que alguém poderia almejar.Não esquecendo da nossa dedicada e competente D. Wilma, que nos recebia carinhosamente no Museu e Biblioteca infantil.
Aquele ano de 71 pra mim foi mágico: eu ia pra escola feliz! Na perua do Sr Francisco, havia conhecido uma pessoa que desde o primeiro dia de aula me acompanhou pro resto da minha vida: a Monica Elisabeth Coates. Juntas conseguimos levar a D. Kiyome à loucura: ela teve que nos separar, colocando cada uma de nós num lado oposto da classe. Mas não éramos só nós duas que aprontávamos: havia o Milton Koga, que vivia se pegando com o Pompílio, a Cecília, chamada de tagarela, a Marcia Iki Chiota, que sempre quebrava o silêncio com uma gargalhada bem alta e escandalosa, os gêmeos Márcia e Márcio ,esse último sempre sendo controladado pela irmã, que era a coisinha mais doce e bonitinha da classe, minha amiguinha querida.
Os meninos que sempre voltavam suados da hora do recreio, de tanto correr e jogar futebol, às vezes até com garrafinhas de plástico: o Maurice, o Guilherme, o Luis Antonio, o Paulo José, o Marco Antonio e o Marcelo José, e o Gianfranco com a maquininha barulhenta, reconhecia todo mundo pela voz e nunca se confundia!
Os passeios que fazíamos, um deles inesquecível ao sítio do Milton ,onde as três classes da primeira série foram reunidas; lá fizemos gincanas e bebemos leite ordenhado da vaca, que nojo! Na foto do passeio aparece também a querida D. Carmela, nossa diretora do primário,a D. Irene, a D. Giconda, avó da Cecília, que por anos se dedicou com o seu trabalho voluntário na realização de festas , juntamente com a d. Helena, mãe da Eliane, a D. Dirce, mãe do Paulo Sérgio e a mãe do nosso colega Joaquim.
Na segunda série, uma surpresa: um novo diretor assumia o comando da nossa escola : o jovem Prof. Fábio de Barros Gomes, criando uma APM que ajudaria tantas crianças carentes, que nunca fizeram idéia de como foram ajudadas com materiais, uniformes e lanches, vindo do esforço destes pais voluntários que doavam parte do seu tempo neste trabalho tão compensador. Nosso diretor criou uma escola que buscava juntamente com todos os professores e equipes pedagógicas integrar oque havia de mais moderno no ensino da época, e as tradições mantidas na escola por quase um século.
Na quarta série, outra surpresa: D. Kiyome no pedaço! Foi um dos anos mais felizes das nossas vidas. Ela organizava gincanas culturais entre meninos e meninas, promovia passeios, naquele ano apresentamos a festa do dia das mães: eu e o Eduardo fomos escolhidos como mestre de cerimônias do evento, tudo foi ensaiado, mas na hora improvisamos e botamos a platéia abaixo, o menino acabou até virando ator de teatro e televisão , formou-se também professor de Biologia e por muitos anos deu aula, sim porque qualquer um de nós saíamos com condições de entrar em qualquer faculdade que desejássemos.
Ganhamos uma viagem para Campos do Jordão, por ser a classe que mais havia vendido as rifas da festa da pipoca. Minha mãe não me deixou ir ,porque no ano de 74 estávamos no meio de um surto de meningite e ela achou arriscado. Tive de aguentar por um tempão as histórias contadas pelo colegas: que a Zaira tinha salvado o Eduardo de morrer afogado na piscina, ou da Anna Paula, felizarda , dormiu no mesmo chalé da D. Kiyome, do Anselmo que no último minuto foi empurrado sem querer pela Soraya e caiu de roupa e tudo na piscina e voltou molhado pra São Paulo. Tenho a memória viva de tantos colegas: o Denis e o Ugo, que não se desgrudavam, o Eugenio com seu trabalho de folclore, que era tão grande e pesado , que precisava da ajuda de dois colegas para levantá-lo, do Paulo Sérgio e o colar que fez de presente pra D. Dirce com caroço de abacate, o mais lindo e caprichado de todos. Ficamos morrendo de inveja, do Luis Henrique, aquele colega genial, tímido, mas um colega nota 10, do Marcelo Mussio, querido amigo que aparece em tudo quanto é foto desde o jardim de Infância, das alegres gêmeas Roberta e Fernanda, que todos nós sentíamos atração e queríamos ser amigos, da Anastásia, que andava delicadamente com passos de bailarina, da chorona Ana Maria,da Carla e da Monica Cestari de quem eu não desgrudava,da Helena,da Marcia Aurora, do Emílio, da Vanda e da Shun que eu infelizmente não consegui encontrar, a Tereza, que me atropelava nos jogos de Handball; mais tarde, no final do ginásio outros colegas memoráveis: o Ulisses, lindo de morrer, deixava a mulherada louca, o Edgard, que tinha ficado altão, gostava de se sentar cruzando as pernas naquela cadeirinha, nem sei como conseguia,o João Kortenhaus,amigo da Deborah, que era louca por cavalos e até convenceu o pessoal da guarda municipal a deixar montar num cavalo deles em plena Praça da República, o querido Elias, que infelizmente se foi, tão jovem, mas que deixou sua marca em nossas vidas e em nossos corações, assim como o inesquecível Renan, que um dia pegou o carro do pai e fugiu numa aventura pro nordeste, outra pessoa que também se foi , o nosso colega Antonio José, ruivinho sardento que nos cedia um espaço no restaurante do pai , para termos aulas de reforço em Matemática, dadas pela D. kiyome, que nem ganhava extra pra isso, pura dedicação, Da outra turma, os saudosos Lobato e o Barreira, que se sentavam lado a lado, estão acompanhando tudo, lá de cima.
Nunca me esqueci das simpáticas primas Kátia e Rita, com quem me formei e a turma A,nossa rival sob o comando da querida D. Lúcia com o Kenny, a Suzana, a Glaura, a Glaucia, a Annick, a Márcia Borghi,o Joaquim, o Marcos D”Avila,o Flávio,o Braga, o Plinio,o Nicolas,a querida Maria Elvira, o Paulo Sérgio,o Julinho, o Alex e o Alexandre, a Ana Paula Dutra e sua voz inconfundível, a Monica Fachin e seus olhos transparentes, a Silmara,a Selma a Rosana, filha da D. Kiyome, colega na oitava, assim como a Nelciara, a Lise, a Priscila, a Ivete e sua inesquecível festa de 15 anos, a Nadya ,a Milla, e a Miriam Juliana, as mais lindas e de quem todos os garotos gostavam, a Elia, filha da D. Ezer, a Marisa, a Sandra , o Paulo Pang, o Willy Lyn, o Ramsés que levava a gente pro clube do Pa-tro-pi pra dançarmos os embalos de sábado à noite em pleno dia da semana,o Reynaldo, com seu sotaque carioca e seu jeitinho de malandro,quantos amigos maravilhosos. E que professores! Gostaria de agradecer em nome de todos os colegas e dizer pra vocês , queridas professoras, que toda a energia, amor e dedicação gastas conosco não foram em vão, porque hoje se somos o que somos é porque parte de vocês está em nós. Obrigada!
Enfim ,por mais de 30 anos, eu esperei o dia em que eu pudesse revê-los, abraçá-los e beijá-los, e finalmente esse dia chegou. Depois de tanta busca ,de tantas emoções que vivi nos últimos meses, finalmente podemos dizer agora : somos a turma Caetanistas 78.