Tenho passado os últimos meses colhendo material de pesquisa para o blog e desta vez fui atrás da biografia do nosso patrono. Fui atrás de publicações em livros, jornais e até pesquisas escolares tentando entender o perfil deste homem. Algumas características de sua personalidade, caráter e seu destaque na liderança seja na parte acadêmica, como na profissional me chamaram atenção. Antonio Caetano de Campos sempre aparece como sendo aluno brilhante, pessoa amável e carismática e onde quer que passasse deixava sua marca registrada: uma pessoa que concretizava idéias, construia sonhos impossíveis, era perseverante na realização dos diversos projetos que lhe caia nas mãos em suma fazia as coisas acontecerem. O homem sempre foi tão admirado que é muito interessante ao ler artigos sobre ele, como é “disputado “pelos educadores de um lado e pelos médicos do outro, pois foi excepcional em ambas funções.
Uma coisa sempre ficava na minha cabeça ao ouvir o hino da nossa escola, quando eu tinha lá meus 10 anos de idade, no trecho que diz o seguinte: “de Caetano de Campos tivemos, belo exemplo que é o nosso ideal, imitando-lhe a vida teremos ,o mais santo e seguro fanal” Eu me perguntava o por que de ter de imitar a vida de alguém se eu queria ter a minha própria vida. Hoje eu penso o seguinte: temos que buscar o bem e fazer as coisas acontecerem , sermos perseverantes: entendo agora o significado deste hino. A seguir a vida desse homem extraordinário:
O Dr.Antonio Caetano de Campos nasceu em São João da Prata na então província do Rio de Janeiro, aos 17 de maio de 1844.
Aos nove anos de idade,ao perder seu pai, transfere-se para a Corte,( como assim se denominava a Capital do país),em companhia de sua mãe que para poder sustentar seu filho entrega-se aos mais árduos trabalhos. Consegue matriculá-lo assim no conhecido Colégio Tautphoeus.
Nesse colégio, o jovem Caetano se destaca, ao ponto de aos 16 anos ser-lhe confiada uma classe, tornando-se um pequeno mestre. O próprio Tautphoeus, com admiração e afeto pelo seu discipulo, assumiu generosamente os meios necessários para faze-lo conquistar um diploma no curso superior.
Matriculou-se então em 1862 na Faculdade de Medicina da Corte, onde novamente destacou-se com seu talento e brilhantismo demonstrado nas provas.Apesar de trabalhosa a vida acadêmica, continuava lecionando no Colégio Tautphoeus e explicava as matérias do curso médico aos seus colegas, angariando fundos para ajudar a custear seus estudos.No quinto ano candidata-se à cadeira de ingles, no Colégio D. Pedro II, mas à despeito de suas provas, não foi aceito injustamente .
Concluiu o curso médico em Novembro de de 1867, no dia 5 de dezembro, como orador da turma, formou-se, então, Doutor em Medicina.
Nessa época o Brasil ainda estava em Guerra com o Paraguai. O Dr. Caetano de Campos é nomeado cirurgião da Armada,partindo para regiões inóspitas da república vizinha, servindo a bordo dos encouraçados “Colombo “e “Herval “. Depois de permanecer por dois anos e tendo contraido Beriberi é forçado a voltar para corte.
Os sintomas desta doença se caracteriza por alterações nervosas, cerebrais e cardíacas. A doença se instala como consequencia da carência de vitamina B1 (tiamina). Naquele momento, infelizmente ainda não havia conhecimento e tratamento específico para a doença.
Por essa época, havia uma vaga de professor na Faculdade de medicina, mas apesar de sair-se brilhantemente nas provas e ser classificado em primeiro lugar não foi nomeado.
Em 5 de fevereiro de 1870, casa-se com a Maria Julia da Mota Rio, tiveram sete filhos: Julia Olympia, Octavio, Alda, Jaime, Marina, Heitor e Olympia.
Aconselhado por seu mestre, amigo e padrinho de casamento, o notável professor da Faculdade de Medicina Francisco Praxedes de Andrade Pertence, Caetano de Campos transfere-se para a Capital da nossa Província ( São Paulo) em junho de 1870.
Ele era descrito como: “um homem alto, esbelto, olhar inteligente, cortês no trato e conversação, dotado de raras qualidades morais , por onde quer que passasse , deixava um rastro de simpatia, que não raro se transformava em admiração . Sua voz de sonoridade agradabilíssima,encantava, eletrizava. “ Ou seja, uma pessoa carismática, uma unanimidade!
Amava Biologia e adorava transmiti-la a seus ouvintes.
Logo ao chegar em São Paulo, pratica uma cirurgia complicadíssima e obtém excelente resultado. Seguiram-se curas felizes, conquistando vasta clientela e dedicando –se à atendê-la, apesar da doença haver se manisfestado e sempre deixá-lo cansado.Era extremamente generoso e carinhoso com seus pacientes.Enfermos pobres, sempre encontraram nele o médico amigo e protetor.Garantia a muitos eles a aquisição de remédios gratuitamente.
Por esses e outros motivos foi nomeado no dia 1* de janeiro de 1872 médico e cirurgião da Santa Casa de Misericórdia ( diretor clínico), pelo sr Major Brás da Silva, Mordomo do hospital. O hospital estava instalado desde 1840 num velho casarão térreo na Rua da Glória esquina com o caminho da Bica, hoje rua dos estudantes.
Descreveu o que encontrou da seguinte maneira: Paredes sujas e mal conservadas, chão que nunca fora raspado desde a fundação do hospital, e cuja lavagem se fazia duas ou três vezes por ano; uma cozinha que além de ruim, estava mal mantida e necessitava ser reformada, enfermeiras imundas, tudo faltava: desde roupas até objetos mais indispensáveis: havia somente 2 bacias de rosto para todo o hospital farmácia desguarnecida de tudo, arsenal cirúrgico desmantelado, em resumo, o hospital só tinha nome, e um nome justamente difamado.Com cerca de 40 lençóis e alguns maus cobertores se fazia o serviço de leitos; com água tirada aos baldes de um poço por um servente, único para todo o serviço, que além de estar sempre embriagado era preguiçoso, com um enfermeiro e enfermeira que maltratava o doentes, tratando-os como criados e se fazendo passar por administradores, com um médico que passava 3 dias sem passar no hospital, com um medico substituto que havia falecido, achava que era impossível, , que predominasse com boa reputaçãoa Casa de Caridade de São Paulo.
Nestas condições Caetano de Campos apelou para os sentimentos filantrópicos da população paulista, no intuito de reorganizar aquela instituição, para ele, uma das mais importantes.Não foi fácil, porque por mais incrível que pareça a Santa casa tinha fama de rica, então poucas pessoas contribuiram. Entretanto, várias ofertas foram feitas e os artistas da capital promoveram espetáculos em benefício da instituição.
As sras. Veridiana Prado e Benvinda Ribeiro de Andrade, pertencentes à elite paulistana, auxiliaram o Dr. Caetano de Campos na obtenção de recursos necessários para a reforma do Hospital.assim pode-se instalar o asilo para os pobres enfermos que não tinham condições financeiras de arcar com as despesas médicas.
Para a adminitração do serviço interno, o Dr. Caetano de Campos sugeriu ao Provedor do hospital, Barão do Iguape,Antonio da Silva Prado, a vinda das irmãs da Congregação de São José de Chambery, que para ele eram as únicas mulheres para o exercício dessa nobre missão e ainda tratavam os enfermos com resignação e extraordinário carinho.
Com maior zelo e dedicação o Dr. Caetano de Campos exerceu o cargo de medico até que um ato de injustiça ligado à constução do novo hospital, na Chácara Marechal do Arouche, onde se acha atualmente, levou-o a solicitar sua demissão.
Tempos depois de construido, aceita novamente o cargo de médico promovendo diversos melhoramentos no serviço interno.Mais uma vez, depois de exaustivo trabalho para engrandecimento desta instituição, foi ferido na sua sensibilidade pela injustiça dos invejosos, demitindo-se para nunca mais voltar.
Apesar de afastado do hospital da Santa Casa de misericórdia, o Dr. Caetano de Campos prestou por muitos anos serviços às irmãs da Congregação de São José , que por ele nutriam profundo respeito e confiança.
O professor Caetano de Campos foi “descoberto”,por Rangel Pestana, também vindo de uma província do Rio de Janeiro. Como ele e sua esposa D.Damiana Quirino dos Santos possuíam um colégio para moças, contrataram-no em 1876 a dar aulas de Quimica, Física e Ciências Naturais e tornaram-se grandes amigos. Foi professor também na Escola Neutralidade, fundada pelos positivistas em 1883.
Com a Proclamação da República Rangel Pestana,que era jornalista e havia fundado o jornal “A Província de São Paulo” juntamente com Prudente de Moraes e Joaquim de Souza Murra tornaram-se governadores da província (triunvirato) nomearam Caetano de Campos diretor da Escola Normal, tendo como missão desenvolver uma escola de acordo com as novas idéias republicanas e reformas do ensino público. Caetano de Campos não só realizou a Grande Reforma no Ensino, como criou a Escola Modelo,com a ajuda de Miss Browne, numa época em que as crianças para estudarem tinham que frequentar a casa de professores se quisessem ter o ensino básico.
Assume, então a direção do que seria uma das maiores instituições educacionais do país,mas achava que haveria a necessidade de se construir uma sede própria, mais adequada para representar os ideais republicanos. Para isso,uma verba destinada à construção de uma catedral é dirigida para o que seria o modelo de escola republicana: a Escola Normal e em anexo a Escola Modelo a ser construída na Praça da República. Parte do terreno foi cedido pela prefeitura e o restante adquirido de Fortunato Martins de Carvalho e Joaquim Mateus. Lançou a pedra fundamental, porém não conseguiu ver a obra terminada.
Caetano de Campos além de dirigir a escola trabalhava no cargo de médico do Hospital da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficencia,que de início não pode recusar-se devido aos seus sentimentos filantrópicos. Entrando em exercício no dia 1* de junho de 1878, permaneceu nesse cargo até seu falecimento em 1891. Aqui o Dr Caetano exerceu o cargo de médico e depois chefe das clínicas médicas e cirurgica.As diretorias que se sucederam de 1878 até 1890 foram sempre unânimes em reconhecer o zelo que sempre dispensou aos enfermos, o que aumentava consideravelmente o prestígio do Hospital.
Tantos foram os serviços relevantes à instituição que os sócios apoiados pela diretoria resolveram colocar seu retrato pintado à oleo e executado por Almeida Jr, na sala de consultas, em solenidade realizada no dia 30 de novembro de 1884. Na ocasião foi saudado pelo sr. Gaspar da Silva, redator do”Diário Mercantil “, mais tarde agraciado com o título de Visconde de Boa Ventura.
O Dr. Caetano de Campos recebeu ainda o título de Sócio Benemérito do Hospital.
Às 6 horas do dia 12 de setembro de 1891, no prédio n* 12 ( hoje não existente), da Rua brigadeiro Tobias, falece vítima de um colapso cardíaco da doença que há anos o consumia.
Houve na escola somente uma turma formada por ele, a de 1890.
Quando faleceu algumas pessoas arcaram com as despezas do funeral, pois apesar de todo o trabalho realizado na área de educação e médica ,não tinha posses.
Quando o prédio da nova escola ficou pronta em 1894, a Escola modelo anexa à escola Normal foi denominada Escola ‘Caetano de Campos” em homenagem ao seu idealizador.Somente em 1946 , tanto a Escola Normal, como a Escola modelo tornaram-se o Instituto de Educação Caetano de Campos. Nada mais justo.
Fonte: Dr. Salvador Rocco: Poliantéia Comemorativa: 1846-1946, São Paulo- primeiro centenário do Ensino Normal
Kishimoto,Tizuko Morchida: A préescola em São paulo:1877 a 1940: Loyola, 1988
Tanuri,Leonor Maria: O Ensino Normal do Estado de São Paulo: 1890-1930 São Paulo FEUSP ( Estudos e documentos,16).
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Antonio Caetano de Campos- Fonte CRE Mario Covas |
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Tela pintada por Almeida Jr- Fonte CRE Mario Covas |
Dr.Caetano de Campos, director da escola Normal; Sr. Antonio Mercado, official do gabinete ( secretário do governo);Dr. Paula Souza (engenheiro que projetou a escola, director da escola Pollitecnica) director da Superintendência de Obras Públicas ;Dr. Prudente de Moraes,Governador da Província e depois Presidente da República ;Sr. Bernardino de Campos, chefe da Polícia; Sr. Peixoto Gomide, director do thezouro , Coronel Lisboa, commandante das Forças ( acervo do Dr. Modesto Carvalhosa).
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Verso da foto anterior |
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Carta de Prudente de Moraes ao Diretor da Escola Normal comunicando a Proclamação da República ( acervo CRE Mario Covas). |