domingo, 29 de janeiro de 2012

A criação do Colégio Rio Branco pelos profs.do Caetano de Campos

Os liceus diferenciavam-se das demais escolas não apenas em sua origem – geralmente criados por grupos de amigos – como também pelo esquema de funcionamento – maior número de cursos e horários oferecidos, instalações apropriadas ao desenvolvimento de atividades educacionais.
O Liceu Nacional Rio Branco nasceu da união de um antigo curso de preparatórios a um grupo de educadores eminentes na época, que traziam uma proposta pedagógica definida (eram entusiastas da Escola Nova). A escola recém formada voltou-se para o atendimento da camada alta da população, em geral, filhos de grandes fazendeiros e de famílias tradicionais brasileiras. Uma professora que ali lecionou contou-nos como se deu esse processo:
Em vinte e... quatro, 25,o professor Savério Cristófaro, formado pela Escola Normal, abriu um cursinho de preparatórios. Chamava-se Instituto Rio Branco. Esse instituto cresceu tanto que não daria para aceitar mais alunos, mas ele tinha vontade de expandir, porque recebia pedidos do interior, até pra alunos internos”
 Encontrou um sobrado muito bom na Rua Caio Prado, esquina da Consolação”. (...) E o professor Savério, então, se instalou nesse sobrado com a família. Aumentou o cursinho dele e começou a receber os dois primeiros alunos internos. Então o professor Savério,usando ainda da inteligência, resolveu uniu-se ao aos grandes pedagogos da época:
Roldão Lopes de Barros, o Sampaio Dória, Almeida Júnior e o... Lourenço Filho. Formou uma equipe... Que lecionavam e tinham o seu nome na Escola Normal e formaram uma sociedade anônima...; compraram o terreno ali na Rua Dr. Vila Nova... ergueram o prédio, que foi o Liceu Nacional Rio Branco. E ali, então, começaram a receber mais alunos de fora e formou-se um internato. Era um internato grande, poderoso, com muitos alunos. E depois o semi-internato. Então criaram o Liceu Nacional Rio Branco. Por volta de 38, 39, era um colégio de elite, um colégio de posse, de força no ensino... porque não só esses pedagogos, outros catedráticos ali lecionavam. Infelizmente, o professor Savério ficou só dois anos... nesse trabalho de direção e fazendo parte dessa equipe, porque... logo em seguida ele foi vítima de um câncer no estômago e faleceu.


                                                                  Sampaio Dória


 Em 25 de setembro de 1926, data da “reunião histórica” na casa de Savério Cristófaro com um grupo de amigos, decidiu-se criar o Lyceu Nacional Rio Branco. “Compunha o grupo fundador, além de Cristófaro, Antonio de Sampaio Dória, Roldão Lopes de Barros, Almeida Junior, Lourenço Filho, Guilherme Merbach e outros”. (Batista, 1996, p. 55)
Tem-se por hipótese que o Lyceu foi uma espécie de “laboratório” de aplicação das propostas de ensino defendidas, particularmente, por Sampaio Dória, Almeida Junior e Lourenço, anos antes da criação da instituição. 

                                                    Antonio Ferreira de Almeida Junior

Localizada na cidade de São Paulo, esta renomada instituição educacional, atualmente conhecida como Colégio Rio Branco, reuniu entre seus alunos, além dos filhos dos próprios fundadores da instituição, de seus parentes e amigos, os filhos de uma parcela da elite política e econômica da cidade de São Paulo. E quem dava aulas lá? Os alunos saídos da Escola Normal.
O Liceu Nacional Rio Branco encontrava-se instalado  à Rua Dr. Villa Nova, no bairro de Higienópolis. O prédio próprio, posteriormente ampliado com a construção de mais um bloco na Rua Maria Antonia – que mais tarde sediou a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo – contava com laboratórios, biblioteca, quadra de esporte, piscina, auditório, além de dependências especiais, como dormitórios e refeitório. Isto porque, desde o seu nascimento, o Rio Branco recebeu alunos em regime de internato e semi-internato.
O Liceu Nacional Rio Branco começou a funcionar com os cursos primário, ginasial e comercial. Este último foi abandonado e optou-se por outros, como o normal e o pré-primário, cujas experiências também não foram bem sucedidas, seja por razões financeiras – curso normal – ou de falta de espaço apropriado para o desenvolvimento de atividades pedagógicas – pré-primário, que funcionava em uma sala de biblioteca : como o Jardim de Infância do Caetano de Campos era a mais procurada, com edificação apropriada desde 1897, o Jardim do Rio Branco destinava-se , como era evidenciado por comodidade, aos irmãos mais novos dos alunos que estavam no primário; com pouquíssimos alunos e falta de material e métodos apropriados, logo fechou seu curso.

                                              Manuel Bergstrom  Lourenço Filho

O Liceu Nacional Rio Branco, situado na região central da cidade, recebia não somente alunos residentes nas imediações, mas também do interior do estado. Assim, desde o princípio, acolheu filhos da camada alta da sociedade, consolidando, com o passar dos anos, sua fama de colégio de elite. Uma professora do antigo liceu contou as reações dos mestres diante dos primeiros alunos que chegaram às suas classes:
Recebi a primeira classe de 2* ano, mas era de alunos internos e semi-internos. Uma classe pesada, porque eram... os matutos que estavam chegando das fazendas, naquela época em que o café estava numa boa posição econômica, não é. Então os fazendeiros matriculavam os filhos nos colégios aqui em São Paulo. E o Colégio Rio Branco, como tinha internato, era um colégio de preferência, era até um colégio de elite, um colégio financeiramente muito bem posicionado! Mas nós, como professoras, e eu, como uma menina de 22 anos, sem experiência, (...) quando me vi diante de uma classe de rapazinhos que usavam aquelas botas ainda das fazendas, eu me vi perdida, não é. (...) Quando eu entrei aqui... era uma nata. O Colégio Rio Branco recebia a nata de São Paulo. (...) O Colégio Rio Branco passou a ser um colégio tradicional.
Durante o período em que o Prof. Lourenço Filho se manteve na direção do Rio Branco, a escola seguiu a orientação escolanovista. Com a sua saída, ainda na década de 30, passou-se a adotar uma metodologia dita mais tradicional.

                                                            Roldão Lopes de Barros



1930:
Conselho Deliberativo:
Dr. Antonio de Sampaio Dória , Dr. Roldão Lopes de Barros, Prof. Savério Cristófaro

Dr. A. de Almeida Junior
Dr. Bergstrom Lourenço Filho ,Prof. Guilherme Prestes Merbach ,Prof. A. Gonçalves da Silva
Dr. João de Sampaio Dória
Administração:
Diretor: Dr. Almeida Junior Vice-diretor: J. Thomaz de Aquino
Escola Rio Branco (curso primário) Diretor: Dr. B. Lourenço Filho

Em cada um dos cursos oferecidos pela instituição consta um diretor ou responsável direto, porém, destacou-se somente o diretor do curso primário, o Dr. Lourenço Filho cuja permanência neste cargo, ao que parece, se deu pelo menos até 1934. Neste ano já estava
em funcionamento, também, uma Escola Normal oficializada.
Em relação à Savério Cristófaro, um nome, desconhecido na literatura educacional, sabe-se que foi professor da Escola Normal da Praça da República e integrante da Sociedade de Educação de São Paulo (1922-1925 e 1927-1930)
Na Sociedade de Educação Sampaio Dória, Almeida Junior e Lourenço Filho atuaram de modo destacado, integrando várias de suas diretorias, participando da comissão de redação da Revista da Sociedade de Educação, especialmente Sampaio Dória e Almeida Junior e proferindo diversas conferências nas reuniões da Sociedade, cuja sede social funcionou por vários anos, em sua 2a fase, no Lyceu Nacional Rio Branco.
Havia relações pessoais entre eles , que iniciaram-se na Escola Normal Secundária da Praça da República. Ali Dória ingressou em 1914, mediante concurso para a cadeira de Psicologia, Pedagogia e Educação Cívica. Em 1916, Lourenço Filho, ex-aluno de Almeida Junior em 1912 na Escola Normal Primária em Pirassununga, ingressa como aluno da Escola Normal Secundária da Praça da Republica sendo, então, aluno de Dória, com quem certamente desenvolveu o gosto pela psicologia experimental, a ponto de tornar-se uma constante em sua trajetória profissional. Ainda nesta instituição, Almeida Junior, diplomado pela mesma em 1909, voltou a ela como assistente de direção em 1919, ao mesmo tempo em que cursava a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, onde formou-se em 1921 e doutorou-se em 1922, tendo nesta ocasião apresentado o trabalho intitulado O saneamento pela educação.(cf. Fávero e Britto, 2002). Desde então, as questões da educação higiênica, um dos pilares da organização da escola moderna, foram objeto de interesse de Almeida Junior.
Os laços pessoais e profissionais construídos, especialmente, com Lourenço Filho e Almeida Junior foram mantidos, durante a década de 1920 e meados da década de 1930, mediante a participação deles, principalmente, no chamado grupo d’O Estado de S. Paulo, um dos maiores divulgadores da Reforma de 1920e na Sociedade de Educação, onde as propostas da Reforma eram frequentemente debatidos nas conferências promovidas pela Sociedade de Educação, assim como na revista da entidade.
Além da participação destes homens no movimento de modernização do ensino, a campanha cívico-nacionalista constituiu-se outro campo magnético que os atraiu. Em meados da década de 1910, auge da campanha cívico-nacionalista no Brasil, encontram-se Sampaio Dória, Lourenço Filho e Almeida Junior, engajados, de modo direto ou indireto, em duas das mais importantes expressões do movimento, na Revista do Brasil fundada em 1916 por Monteiro Lobato e Júlio de Mesquita Filho e na Liga Nacionalista de São Paulo (1917-1924), da qual Sampaio Dória foi um dos principais expoentes. Na Revista do Brasil considerada, posteriormente, o “braço cultural” da Liga Nacionalista Sampaio Dória e Almeida Junior foram colaboradores, publicando artigos. Lourenço Filho foi diretor deste periódico em 1919. Os estreitos laços de sociabilidade já firmados entre eles em fins da década de 1910, tornam-se mais estreitos durante a década seguinte.
neste período Sampaio Dória foi assumindo o controle administrativo e financeiro do Lyceu., até que em 1945, já proprietário da instituição que contava com 1.600 alunos, Dória decide fechá-la. No entanto, uma mobilização de pais e professores pressiona Sampaio Dória a vender as instalações do Colégio para José Ermírio de Moraes que
Conforme consta no prospecto de 1930, na descrição sobre a Escola Rio Branco – Curso Primário:
UMA ESCOLA MODERNA. – A Escola Rio Branco tem o tipo não só de uma escola graduada e seletiva, mas o de uma escola experimental, em que os professores procuram dia
a dia melhorar o seu ensino, modelando-o pelo que de melhor se tem feito no país e no estrangeiro. (...) Exercitando-se metodicamente no aprendizado da leitura, da escrita e do cálculo, a criança é levada também a desenvolver harmonicamente todos os seus poderes mentais, a habilidade no observar, imaginar e concluir. Ao mesmo tempo aprende a zelar pela saúde, graças aos hábitos que adquire nos exercícios de educação física, e pelos conhecimentos de higiene; adapta-se à vida normal de hoje pelas noções imprescindíveis das ciências naturais, deveres cívicos e sociais; aprende a agir, e a agir proficuamente, visando já uma utilidade social, profissão ou trabalho. (1930, p.20 )



Em relação à questão da educação cívica há um aspecto interessante. Cada sala de aula do Lyceu recebia o” nome de uma figura histórica, saliente pela sua atuação numa dada época”, indicando o motivo de sua “saliência”. Há o esclarecimento de que a sua “combinação marca as quatro etapas da história pátria: I – A formação (Salas: Alvares Cabral, o Descobridor; Martim Affonso, o Colonizador; Anchieta, o Evangelizador; Paes Leme, o Devassador dos sertões); II – A Liberdade (Salas: Tiradentes, o Precursor; José Bonifácio, o Patriarca; Ruy Barbosa, o Paladino da Liberdade); III – O Império (Salas: Caxias, o Pacificador; Mauá, o Empreendedor; Visconde do Rio Branco, o Abolicionista; Pedro II, o Magnanimo) e IV – A República. (Salas:Benjamim Constant, o Propagandista; Deodoro, o Proclamador; Prudente de Moraes, o Iniciador Civil; Oswaldo Cruz, o Saneador).(Prospecto, 1928, p.14)

Vale salientar que a preocupação com a educação cívica deve-se, muito provavelmente, à Sampaio Dória que procurou, em diversas ocasiões, implantar situações que promovessem a formação da consciência cívica.
O prospecto de 1928 informava que já estava em funcionamento o “novo prédio” do Lyceu, à rua Dr. Villa Nova, 20. “Todo de cimento armado, obedece aos mais perfeitos requisitos da higiene pedagógica”. Este novo prédio, de cinco andares, comunicava-se com outro pertencente à instituição, na Rua Maria Antonia 52, com dois andares. Há fotos das salas de aulas e demais dependências, apresentando os alunos em laboratórios, em “atividades de projetos”, cuja imagem difere bastante daquilo que tradicionalmente se considerava uma escola e o estudo em sala de aula.
No Lyceu Nacional Rio Branco Sampaio Dória, Lourenço Filho e Almeida Junior realizaram cotidianamente os ideais de uma educação moderna defendidos anos antes

Durante o período em que o Prof. Lourenço Filho se manteve na direção do Rio Branco, a escola seguiu a orientação escolanovista. Com a sua saída, ainda na década de 30, passou-se a adotar uma metodologia dita mais tradicional.
As informações disponíveis até o momento dão conta que em meados da década de 1930 ocorreram mudanças significativas na composição da direção da instituição, inclusive porque em agosto daquele ano o prof Savério Cristófaro faleceu.
 Tudo indica que manteve o nome da instituição - Colégio Rio Branco, já que esta denominação não fora registrada oficialmente por Dória. 
Em 1960 a escola é transferida para o Edifício Rotary, na Av. Higienópolis.

Fonte:


Demartini,Zeila de Britto Fabri- Liceus Paulistanos: elementos para a história da educação- UMESP
/CERU -USP

Medeiros, Valeria Antonia-Lyceu Nacional Rio Branco “Uma obra de Cultura e patriotismo- 1926-1934/ PUCSP
.
BATISTA, Nórton A S. 1996. Há muito ainda por fazer. São Paulo
DÓRIA, Antonio de Sampaio. 1923. Questões de Ensino – A Reforma de 1920 em São Paulo. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia Editores.
FÁVARO, Maria de Lourdes de A. e BRITTO, Jader de Medeiros (orgs.). Dicionário de educadores no Brasil. 2002. Rio de Janeiro, Brasília: Ed UFRJ, Inep.
HISLDORF, Maria Lucia Spedo. 1998. Lourenço Filho em Piracicaba. In: SOUSA, Cynthia Pereira. História da Educação – Processos, práticas e saberes. São Paulo: Escrituras.
LARIZZATTI, Doris Sathler de Souza. 1999. “A luz dos olhos de um povo”: os projetos de educação do jornal O Estado de S. Paulo. 1920-1934. PUC/SP. (dissertação de mestrado).
LYCEU NACIONAL RIO BRANCO. 1927. Prospecto.
________. 1928. Prospecto.
________. 1934. Prospecto.
LUCA, Tania Regina de. 1999. A Revista do Brasil – um diagnóstico para a nação. São Paulo. UNESP
MONARCHA, Carlos & LOURENÇO F., Ruy. (org.). 2001. Por Lourenço Filho: uma biobibliografia. Brasília: Inep.
NERY, Ana Clara Bortoleto. 1999. A Sociedade de Educação de São Paulo: embates no campo educacional (1922-1931). Tese de doutorado: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Relatório apresentado ao Exmo. Snr. Dr. Secretário do Interior pelo Prof. Guilherme Kuhlmann – Diretor Geral da Instrução Pública – S. Paulo. 1921. COLEÇÃO DE LEIS E DECRETOS. Vol. XXX..
SIRINELLI, Jean-François. 1996. Os intelectuais, in: RÉMOND René. Por uma história política. UFRJ/ Fundação Getúlio Vargas.

 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ligia Venosa Gomes Caldas




D. Ligia Venosa Gomes Caldas nasceu aos 20/11/1921, entrou no Jardim do Caetano de Campos e saiu somente ao terminar o Curso Normal. Fez especialização em pré-escola e entrou como professora substituta no Jardim de Infância.


Turma do 2* grau do Jardim em 1927, D. Ligia é a primeira sentada da esquerda para a direita com o laço na cabeça, a professora que não está na foto é Alice Meirelles Reis.


                                      A professora do Jardim em 1927- Alice Meirelles Reis

                        D. Alice Meirelles Reis em 1931 com outra turma do Jardim


3* grau do Jardim-1928 -Professora Alice Vianna- D. Ligia -primeira da esq. para direita sentada na cadeira com laço na cabeça, do seu lado esquerdo sentado no chão, o irmão Rubens Venosa


1929- Primeiro ano primário- Na primeira fileira em pé 7* da esquerda para a direita: Virginia Morais Barros,Ao lado da professora, Hilda Decourt e ao lado dela Maria Aparecida do Livramento, a professora é Cecília dos Reis Amoroso, que depois daria aula de metodologia do Ensino na Escola Normal e criaria a Cartilha  "Onde está o patinho", onde centenas de crianças foram alfabetizadas.   Sentada 7* da esq. para direita Ligia Caropreso e ao seu lado, Lucia Margarida Gomes Pinto. Na primeira fileira ainda,  4*da direita para a esq. Cecília Lobo da Costa


1930- 2* série do primário- a professora que não aparece na foto era Lady Martins de Mattos-Em pé, à esq.o diretor superintendente prof. Honorato Faustino o outro era o diretor do primário, D. Ligia esta do lado esquerdo da foto, na primeira fileira a segunda da esq. para a direita


1931- 3* série do primário com a professora Iracema Marques da Silveira que depois trabalharia  na biblioteca infantil da escola por trinta anos. Em 1932, D. Ligia teve aula com a mesma professora


Diploma de conclusão do curso primário, em 1932.

Em 1933 D. Ligia prepara-se para os exames de admissão e ingressa no ginásio em 1934.

1934- Primeira série do ginásio ( ver na lousa na esq. da foto)D. Ligia está na terceira fileira em pé, a5* da esq. para direita


1936- foto rara tirada na Rua Marquês de Itu, onde os alunos ficaram provisoriamente enquanto se construía o terceiro andar do prédio da Escola


5* série do Ginásio em 1938- já estão de volta no prédio da Escola, pois o terceiro andar já estava concluido. Em pé, o primeiro da esq. é Walter Toledo Silva.

Prof. Dr. João Gomes Cardim, que dava aulas de Biologia no Curso Normal e que na década de 1950 tornaria-se diretor da Escola


Prof. Yolanda Piva Marcucci, professora do Curso Normal, que na década de 1960 tornaría-se diretora superintendente


Esther  Figueiredo Ferraz, prof. Normal que tornaria-se Secretária da Educação na década de 1970


1941- Diploma do Curso Normal


                                 1941- Habilitação para curso de pré-primário


 1938 ( quando D. Ligia estava no 5* ano do Ginásio) da Turma dos professores de 1913 


1943- Visita do General do Paraguai recebido na Escola

texto da foto acima


Fotos: arquivo pessoal de D. Ligia V. Gomes Caldas

Manuel Ciridião Buarque- Intercambio de alunos para os Estados Unidos em 1915 e introdutor da Língua Portuguêsa na Universidade de Columbia



Manuel Ciridião Buarque:

Prestem atenção na importância deste professor do Caetano de Campos:

Nasceu em 2 de janeiro de 1860 na cidade de Maragogi, no Estado de Alagoas.Chegou no Rio de Janeiro em 1882 e foi professor de Português na Escola Normal do Distrito Federal .
Em 1889 veio para São Paulo para substituir o prof. Dr. João Kopke na direção do Colégio Neutralidade.
Foi convidado em 1890 por Caetano de Campos para assumir a cadeira de Psicologia na Escola Normal, onde lecionou por 30 anos.
Em 1915 fez uma pausa e viajou para os Estados Unidos com a finalidade de encaminhar estudantes brasileiros às escolas americanas, abriu então  o “Brazilian Bureau of American Education”com o objetivo de incentivar as relações culturais entre o Brasil e os EEUU , ou seja, criou assim um sistema de intercâmbio de alunos, o primeiro que se tem notícia no país.
Foi então convidado pelo diretor da Columbia University e sob os auspicios da “Pan American Division”a fundar o primeiro curso de Português a fim de difundir nossa  Língua aos norte –americanos.
Fundou em São Paulo com sua filha Mary a primeira escola Montessori no Brasil.
Mary escreveu vários livros infantis, além de ser a primeira mulher a ter um programa na rádio: era o programa infantil "Pequenópolis". Ela foi autora de várias músicas, além de dar aulas de violão, foi professora de Inesita Barroso que estudou a vida inteira na Escola.


Mais dados da sua biografia:


Filho de Francisco de Borgia Buarque e de D. Rita de Cássia Buarque, fez seus estudos preparatórios na cidade de Recife, Pernmbuco, matriculando-se mais tarde na faculdade de Direito desta cidade, cujo curso abandonou.
Aos 22 anos de idade, em 1882, chegou ao Rio de Janeiro, onde lecionou Português no Colégio Menezes Vieira, e Geometria na Escola Naval.
Entrou com concurso como lente no Colégio Pedro II, porém o Imperador nomeou-o lente de Pedagogia na Escola Normal do Distrito Federal ( na época no Rio de Janeiro), cargo mais de acordo com a sua vocação.
Em 1889 veio para São Paulo pra substituir o diretor do Colégio Neutralidade ( do diretor e dono João Kopke) a casou-se com a educadora Brasilia Marcondes, com quem fundou e dirigiu o Colégio Andrade, mais tarde Instituto "Brasília Buarque".
Foi convidado então por Caetano de Campos a ocupar o cargo de Lente em Psicologia, onde permaneceu por mais de 30 anos.
Foi convidade em 1912 por Altino Arantes, então secretário do Interior para representar o Estado de São Paulo no Segundo Congresso de Instrução Primária e Secundária que se realizou em Belo Horizonte.
Alguns anos depois foi-lhe confiado à sua direção uma viagem de estudos com um grupo de jovens aos Estados Unidos, cujo sistema de educação foi sempre admirador.


Em Nova York foram incontáveis suas atividades educacionais, encaminhando estudantes brasileiros às escolas norte-americanas e mantendo um escritório o "Brazilian Bureau of american Education"e o posterior convite de fundar o primeiro "Curso de Português"a fim de difundir o ensino de nossa língua entre os americanos, que julgavam suficientes para suas relações com o nosso país os estudos e conhecimentos do espanhol...
Fez tudo isso sem a ajuda governamental, numa época em que todas a atenções culturais voltavam-se para a Europa.
Voltando ao Brasil, onde reassumiu seu cargo de Psicologia e Pedagogia na Escola Normal, fundou e dirigiu com sua filha Mary Buarque a Escola Montessori, onde foram usados os métodos de ensino adquiridos nos estados Unidos.
Faleceu de umataque do coração no dia do aniversário de sua filha, aos 3 de outubro de 1921.
Está enterrado na Igreja da Consolação.


Fonte: Poliantéia Comemorativa dos Cem anos da Escola Normal-pag.93

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os Mutantes e o Caetano de Campos



Texto tirado da Revista Realidade da década de 1960:

Sérgio foi o primeiro a acreditar que podia obter êxito e ganhar dinheiro com música. Aos catorze anos, muito antes de ser um dos Mutantes, estava na primeira série do Instituto de Educação Caetano de Campos e vivia matando aulas para ir ao cinema. Um dia, disse à mãe, em tom solene:
- Sou um profissional da guitarra. Vou viver disto e parar de estudar bobagens na escola.
Dona Clarice Leite não concordou com a idéia do filho. Como castigo, passou um ano sem dar nada a ele – nem roupas, nem sapatos, nem presentes. Sérgio agüentou firme em sua decisão. Quando já era um Mutante, a mãe reconheceu nele um rapaz de opinião.
Uma espécie de atavismo empurrava Arnaldo e Sérgio para a música.
 O pai, Sérgio Dias Baptista, que estudou também no Caetano de Campos foi secretário particular do ex-Governador Ademar de Barros durante muitos anos, mas antes pertenceu ao Coral Paulista, do qual era tenor principal. Foi ainda dançarino do Balé Português e poeta nas horas vagas: é o autor da versão brasileira da música de Natal ‘Noite Feliz’, assinada com pseudônimo. Dona Clarice é pianista, concertista e compositora de música erudita, mas sem êxito. O irmão mais velho de Arnaldo, Cláudio César, de 23 anos, já casado, fabrica instrumentos musicais elétricos e amplificadores de som.




Turma do Sérgio no primário: ele é o quarto da direita para a esquerda, na fileira do meio




Arnaldo, que agora tem vinte anos, era muito garoto quando a mãe resolveu fazê-lo pianista. Ele estudava contrafeito, por obrigação, e Dona Clarice terminou por desistir de vê-lo algum dia no Municipal, mas mesmo assim as lições continuaram. 
Arnaldo era mau aluno de piano, porém ótimo estudante do Instituto Caetano de Campos, onde fez o curso primário e o ginasial, sempre como primeiro aluno. Gostava de línguas, pensava estudar direito ou filosofia. Chegou a fazer o primeiro ano clássico no Mackenzie, mas parou o curso no ano passado, quando já era um Mutante e ganhava dinheiro com música.
Na casa sem luxo de dois pavimentos onde nasceram e moram até hoje, na Vila Pompéia, perto do campo do Palmeiras, em São Paulo, Arnaldo e Sérgio recebiam um amigo, Rafael Vilardi, que os influenciava muito nos brinquedos. Primeiro foi a mania da astronáutica, montando e desmontando telescópios, para estudar as estrelas no Planetário do Ibirapuera. Depois, a do aeromodelismo. Construíam aviõezinhos e os destruíam em combates aéreos. Um dia, há oito anos, Rafael apareceu com um violão. Surgiu a mania dos conjuntos musicais.
Foi há cinco anos que Arnaldo e Sérgio conheceram Rita Lee Jones, filha de pai americano e mãe italiana e que ainda mora na casa em que nasceu, na Vila Mariana, São Paulo. O pai, o dentista Charles Fenley Jones, nada tem de Lee no sobrenome: fez questão de colocar esse nome nas três filhas – Virgínia, Mary e Rita – em homenagem ao General Lee, comandante das tropas sulistas durante a Guerra de Secessão dos Estados Unidos.Rita era boa aluna do Liceu Pasteur, onde terminou o curso científico, e chegou a freqüentar um cursinho para a Escola de Comunicações, mas parou no ano passado, quando Os Mutantes se firmaram. Sempre gostou de música: na época da formatura, pediu ao pai que, em lugar de gastar dinheiro na festa, lhe desse uma bateria de presente. Charles Fenley Jones deu-lhe uma de NCr$ 60, muito ruim.
Em 1962, com catorze anos, Rita formou com três meninas do Liceu Pasteur um conjunto vocal, o Teen Ager Sisters (sic; na verdade, Teenage Singers), que só cantava música folclórica americana. Eram todas muito louras como Rita, e por isso os amigos apelidaram o conjunto de "rataria branquela". Duas delas, uma inglesa e outra suíça, voltaram aos seus países um ano depois. Rita ficou sem o conjunto: restara apenas sua colega paulista Sueli, hoje também cantora.
Num show de colégios no Teatro João Caetano, São Paulo, Rita conheceu Arnaldo, Rafael e Sérgio – que aprendera a tocar guitarra olhando os outros – tinham formado um trio de twist, os Flashs, meses depois da extinção dos Wooden Faces. Era um conjunto provisório, que eles pretendiam ampliar. Arnaldo fez um convite as duas meninas:- Por que vocês não vem cantar com a gente?
 Rita e Sueli aceitaram, nasceu então o O’Seis, formado pelos cinco e mais um baterista, Pastura. O nome O’Seis, além de designar o número de integrantes, tinha a intenção de fazer um trocadilho de ocês, forma acaipirada de vocês. Durou 2 anos.
Depois saíram Suely, que foi morar no exterior, Rafael e Pastura, ficando somente Rita, Arnaldo e Sérgio.
O conjunto ia bem, preocupava-se em ensaiar bastante.  Mas faltava um nome definitivo. Com Ronnie Von e o empresário, os três passaram a pensar em vários – Os Bruxos foi um deles. Arnaldo, Rita e Sérgio queriam um que não fosse estrangeiro, costume já tão batido, nem um nome brasileiro de mau gosto. No meio de mil, surgiu aquele que ficaria: Os Mutantes..


* Dirceu Soares era repórter da revista Realidade, nos anos 60, onde a matéria foi publicada originalmente.


Entrevista dada por Rita Lee para uma revista americana, contando como o conjunto era chamado originalmente de "Os Caras de Pau"na época em que Arnaldo e Sérgio estudavam no Caetano":


Rita Lee interview
5. How did you meet the other members of Os Mutantes?
They attended a traditional school in São Paulo, Caetano de Campos. At the beginning the Wooden Faces were Claudio Cesar, the drummer (the eldest Baptista brother, the genius behind the instrument factory), Arnaldo the bass player and Rafael the guitar player. There was also behind the scenes the youngest brother Sérgio, who at that time was 13 and had quit school very early to dedicate fully to his guitar. (his parents went nuts!) The Teenage Singers met the Wooden Faces at the festival, I’ve already mentioned, but it took a while (the other previous line-ups) until the trio was completed. The name Mutantes was taken from a science fiction book called O Planeta dos Mutantes. The year was 1965.




A seguir uma história descoberta pelo Fernando Amaral:

 O Antonio Amaral, meu irmão mais velho (nascido em 1950), estudou com o Arnaldo, na mesma classe, nos 3o e 4o anos do ginasial. 
A lembrança que ele tem do Arnaldo é de um cara bastante simpático, amistoso, gozador e aprontão.
Ele lembra que o Arnaldo frequentemente era visto pelos corredores carregando o violão.  
Disse que, por vezes, o Arnaldo sentava-se na mureta do páteo do recreio e ficava tirando musicas, ou mesmo tocando e cantando, cercado por um grupo de colegas.

Um lance que deu um baita dum bixuxo na Caetano envolve um assunto tabú e novidade na época:
Bichas (ou bixas) estavam começando a ser notadas, circulando na região da escola.
Havia uma certa perplexidade, medo e a reprovação da moral pudica.
Mas havia um lado engraçado, pois elas eram cheias de trejeitos e afetações que chamavam a atenção de todos.
Pois não é que, ou por pura gozação ou para ganhar alguma aposta, conta-se que o Arnaldo e um amigo, sob os olhares incrédulos de outros colegas foram até a Av. São Luiz e "desfilaram" por toda a avenida fingindo-se de bichas, conversando alto, simulando trejeitos, expressões e atitudes afetadas? (não sei se estvam com o uniforme da escola).
Meu irmão não viu nem lembra do ano em que isso aconteceu.
Se era uma aposta, com certeza o Arnaldo e o amigo ganharam a aposta e a admiração de todos pela inusitada coragem.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo daquele tempo

                                       Por Jorge Americano- aluno do Caetano de Campos em 1898


Chegamos à Praça da República. Era um descampado, ora poerento, ora enlameado,conforme a época do ano. Havia três casas principais, a do senador Adolfo Gordo, na esquina da Rua Timbira, a do Leite Penteado, na esquina da Rua Ipiranga co a 24 de maio, e a do Vieira de Carvalho, na esquina da Rua Vieira de Carvalho, ainda estreita.
A grande árvore que está ao centro da rua, onde há o bronze de um índio rastejando, estava dentro da Chácara Vieira de Carvalho.
Num lado da Praça, a Escola-Modelo Caetano de Campos, recém construída, com dois andares. O terceiro foi acrescido depois de 1930.



Na praça armavam-se rodas-gigantes e circos de cavalinhos giratórios, tocados a vapor.
Armavam-se também circos de espetáculos.
De um, eu guardo recordação forte. Depois do palhaço, dos macacos, do cachorro ensinado, da amazona, dos ginastas, passou-se à segunda parte, a pantomima.


                                                      Desenho feito por Jorge Americano


Trouxeram lona impermeável que estenderam até as muretas à beira da arena. Jorravam água dentro da piscina, assim preparada.
Uma ponte de madeira atravessava a piscina, e por ela veio passando todo o pessoal do circo. No centro da ponte estourou uma briga, e todos caíram n” água, inclusive um policial, dentre os comparsas, vestido de roupa de borracha estofada, que o fez flutuar. A noiva, que fingia afogar-se, montou nele para se salvar.

Depois veio a Montanha russa, que deu vertigens e vômitos em muita gente.


                                                        Praça da República séc XIX


Ali por 1902 a Praça da República foi cercada de arame farpado. Vieram carroças, removeu-se terra daqui para ali, fizeram o lago, plantaram árvores, gramaram canteiros, e numa tarde de Ano Bom, com banda de música, foi inaugurado o jardim, com a presença do Presidente do Estado e do Prefeito.




Ajardinada, a Praça da República, ao cair da noite, depois do jantar, tornou-se ponto de reunião das famílias dos Campos Elíseos, Vila Buarque e Higienópolis.
Mais tarde ( 1910 mais ou menos) criou-se o hábito dos sábados pré-carnavalescos, que começavam no Ano Bom e terminavam no ultimo sábado do Carnaval.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Maria Pia Brito de Macedo




Não pude resistir à incrível entrevista desta caetanista de 90 anos e tive que fazer 2 filmes ao invés de um.
Adorável, de uma memória fenomenal, uma das melhores entrevistas que fiz até hoje, muito útil aos pesquisadores da área de educação, imperdível!

                                                                 Patrícia Golombek

Maria Pia de Macedo- Parte 2





Maria Pia Brito de Macedo

Nascida aos 15 de dezembro de 1921 em São Paulo é filha de 
Álvaro Liberato de Macedo e Marianna Amaral Brito de Macedo .

A família morava na Rua  Aureliano Coutinho e segundo Maria Pia na Revolução de 1924 moravam na Rua São Vicente de Paula.
Os dois irmãos mais velhos de Maria Pia eram internos do Liceu Franco-Brasileiro ,o Lycée Pasteur. Ela fez seus primeiros estudos em casa, com uma professora ( assim como seu irmão caçula) para depois , em 1934, aos 12 anos ingressar na primeira série do Ginásio.

                                         Maria Pia ( aos 6 anos) e seus irmãos em 1927


D. Maria Pia foi professora em algumas escolas, deu aulas preparatórias para os alunos que prestariam exames  para vestibulares, em 1946 após concurso vira Inspetora Federal que tem como atribuição a fiscalização de escolas secundárias. Deu aulas no curso noturno da Escola Marina Cintra e finalmente trabalhou para várias editoras como tradutora dos idiomas inglês, francês, italiano e espanhol.

                                        Turma dos alunos de 1935- acervo da escola

          Maria Pia no centro, com as colegas de turma, na época da Faculdade , na própria escola

Dedicatória do prof. Silveira Bueno, em 1938 dava aulas no ginásio da Escola, esse que foi depois catedrático em português na Faculdade de Filosofia, Ciências e letras, autor de vários livros

Dedicatória do mestre em latim Otacílio S. Barros

                                                                  continução



              Dedicatória de Nelson Motta, seu colega ( pai de Nelsinho Motta, produtor musical).


No seu depoimento, é de suma importância frisar alguns fatos:
Em 1933, assume a direção da Escola Fernando de Azevedo. Isso ocorre justamente na época em que se concretiza as reformas de ensino que tiveram sua participação quando ele era Inspetor Geral do Ensino.
O curso fundamental que antecedia o Normal, transformou-se no primário de 4 anos e ginásio de 5 anos.
Depois através de provas de admissão a pessoa iria para o Curso Normal ( que no ano de 1933 havia se transformado no Instituto de Educação) ou se quisesse ir para outra faculdade, deveria cursar dois anos de um pré-curso relacionado à Faculdade ( curso pré médico , pré-juridico, etc…) e depois faria o vestibular para a faculdade. Quando D. Maria Pia terminou a quinta série, Fernando de Azevedo já havia criado, com a ajuda de Júlio de Mesquita Filho, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que funcionava no terceiro andar do prédio. Para entrar na Faculdade, o aluno deveria cursar uma parte no Instituto de Educação ( prof Primário, secundário) , para depois ingressar na FFCL.
No caso de Maria Pia acontece um fato curioso: foi permitido naquele ano de 1939 que os alunos vindos do ginásio pudessem prestar o vestibular para entrar diretamente na Faculdade. Isso deve-se, concluo eu, ao seguinte fato: no ano de 1938, Adhemar de Barros , na época interventor Federal do Estado,acaba com o Instituto de Educação , por pressão dos educadores católicos contrario às idéias dos escolanovistas, como Fernando de Azevedo , (que articulava um discurso que dificultava a inserção do ideário católico na formação dos professores.) e faz com que a Escola Normal surja novamente nos moldes antigos.O ano de 1939 foi um ano em que muitos professores do Instituto de Educação migraram definitivamente para a FFCL, outros foram para a Escola Normal, foi o ano de readaptação no currículo e esse deve ter sido o motivo no qual abriu-se uma excesão para aqueles joves alunos entrarem diretamente na Faculdade após o ginásio. Talvez pelo motivo também apresentado por D. Maria Pia: a necessidade de aumentar o número de alunos para a FFCL.
No ano de 1939, toda a Escola adquire o nome de Caetano de Campos ( antes era somente o primário e ginásio).




Doc. de D. Carolina Ribeira à diretora de Divisão do Ensino Secundário comunicando que daquela data em diante toda a Escola chamaria-se Escola Caetano de Campos , até a Escola Normal-dez.1939




Jornal J.P.O.P. ( Jornal Paulista de Orientação Profissional), criado por Noemy Rudolfer- 1935

Outro fato interessante é que a Escola durante 1936 e 1937 funcionou fora do prédio, por motivo da reforma de acréscimo do terceiro andar. Eu já havia localizado um documento no acervo da escola , datada de 20 de abril de 1938 e dirigida ao sr Euclydes Roxo, diretor do Ensino secundario, não assinada, falando sobre a transferência destes alunos que estavam provisioramente na Rua Marquês de Itu e estavam regressando para a sede da Escola, descrita como munido de ”magníficas instalações”, mas este fato nunca vi publicado em obra alguma sobre a Escola, com o depoimento de D. Maria Pia, esse documento ganha um peso maior.
Segundo o depoimento tratava-se das antigas instalações do Ginásio Osvaldo Cruz.

               Documento de 1938 , que comprova a ida dos alunos para a Rua Marques de Itú, 181


D. Carolina Ribeiro, a diretora do primário ( entre 1935 e 1939 e que assume a direção de toda a escola em 1939 após a saída de Fernando de Azevedo) de religião católica, era muito religiosa.
Contrária às idéias escolanovistas de Fernando de Azevedo, assim como o diretor do secundário Antonio Firmino de Proença, introduzem nesses cursos as aulas de religião católica ( em 1931 Getúlio Vargas expediu um decreto facultando o ensino religioso nas escolas públicas, o que foi proibido em São Paulo , apesar disso essas aulas começam a acontecer dentro do primário e ginásio no final da década de 1930.
Outro fato interessante: ao indagá-la se tinha alguma informação sobre uma escola particular chamada Ginásio Caetano de Campos, que na década de 1940 funcionava na Rua Augusta, ela confirmou sua existência, pois passava em frente ao estabelecimento ao levar um de seus filhos para a escola que ficava na mesma rua.
Nessa escola dava aulas um professor ( que também dava aula na Escola Caetano de Campos), Salomão Becker e que foi o criador oficial do dia do professor, iniciado aos 15 de outubro de 1947 naquele estabelecimento.

                                                                         Por Patrícia Golombek

Fonte: Evangelista, Linda- A Formação  Universitária do Professor- Editora Cidade Futura,2002
Cre Mário Covas- documentos e fotos do acervo da escola

sábado, 21 de janeiro de 2012

Ludgero Prestes

Ludgero Prestes foi o filho adotado por Gabriel Prestes ( esse último  formou-se na Escola Normal e substituiu Caetano de Campos na direção da escola quando este veio a falecer).
Pouco se sabia da história deste que também foi aluno e se formou na Escola Normal e acabou virando diretor de uma escola. Foi graças à pesquisa da historiadora Vanessa Sattamini Varão Monteiro, com a ida dela ao acervo de nossa Escola, entre outras coisas, que tudo veio à tona. A seguir essa incrível história de busca:



Li o livro do professor Calasans em julho de 2005. Eu acabara de voltar de Salvador e de Canudos, para onde tinha viajado à procura de material para minha dissertação de mestrado. A pergunta chamou minha atenção. Perguntas sem resposta sempre me intrigaram. Vinha trabalhando com os órfãos da guerra de Canudos desde a graduação. Meu interesse pelo tema começou durante uma aula, quando a professora Margarida de Souza Neves disse que a República não poupara esforços para varrer Canudos do mapa e “que Canudos tinha de ser apagado inclusive dos corações e das mentes dos canudinhos”, como eram chamados os pequenos órfãos da guerra. A situação dessas crianças – distribuídas para servir de mão-de-obra ou levadas por soldados a título de “lembrança viva” da campanha – pareceu-me a mais cruel das violências empreendidas pelo governo republicano  .


Não há uma estimativa que quantifique o número de órfãos ao final da guerra, assim como igualmente não há consenso sobre o número de habitantes de Canudos. Estima-se que havia 5 mil famílias morando lá, e que, por conseguinte, o total de órfãos, ao final do conflito, teria sido bastante significativo. A prática de distribuição de crianças, a venda e o uso desses menores para mão de obra doméstica foi bastante comum naqueles dias. A situação chegou a ser descrita como “uma nova escravidão” que passara a assolar a Bahia. No decorrer da terceira expedição militar, cidadãos compadecidos da sorte dos sobreviventes de Canudos criaram em Salvador o Comitê Patriótico da Bahia, que atuou no auxílio às vitimas da guerra entre 1897 e 1901. O Comitê formou uma comissão especial para recolher e encaminhar as crianças sertanejas a orfanatos ou para restituí-las às famílias. No entanto, apesar de todo o empenho, muitas crianças já haviam sido levadas por soldados que muitas vezes as repassaram a outrem.
Euclides da Cunha, como correspondente do Estado de S. Paulo, permaneceu na região por quase três semanas em 1897. Deixou Canudos na manhã de 3 de outubro, dois dias antes do fim da guerra, doente e acometido por  acessos de febre. Levou consigo o menino jagunço que recebeu como “presente” do general Artur Oscar, comandante da quarta e última expedição militar.

                                                                 Euclides da Cunha

Durante meses, volta e meia, a pergunta de Calasans vinha à minha mente, procurava sem sucesso uma resposta enquanto pensava, inconformada, que ninguém desaparece assim, não se vive uma vida inteira sem deixar pistas. A última notícia é que o jaguncinho havia se formado professor primário, em 1908. O garoto adotara o sobrenome do tutor e passara a se chamar Ludgero Prestes. O único documento era uma carta de Euclides, em resposta a uma carta de Ludgero de 3 de outubro de 1908, na qual, saudando o fato de o antigo jaguncinho ter-se tornado professor primário, escreveu:
“Ludgero Prestes, recebi a sua prezada carta de 3 do corrente; li-a com surpresa indescritível, verdadeiramente encantado; e não poderei traduzir-te a minha comoção ao ver aparecer-me quase homem – e homem na mais digna significação da palavra – o pobre jaguncinho que me apareceu pela primeira vez há onze anos no final da batalha. Mas na mesma ocasião associei-te à recordação de um amigo a quem deves muito mais do que a mim. O que fiz foi, na verdade, muito bom: o trabalho material de livrar-te das mãos dos bárbaros e conduzir-te a São Paulo”.

E isto era tudo o que eu sabia. Procurei em livros, artigos e nada. Ludgero, depois de formado, não havia deixado rastros. Sobre o pai adotivo, muitas informações.  Era um importante educador paulista, com livro publicado, acervo em museu no interior de São Paulo, mas Ludgero parecia ter desaparecido. Quando achei que já tinha feito o possível lancei mão de um recurso que normalmente os historiadores não vêem com bons olhos. Abri o computador e digitei no Google – Ludgero Prestes. E assim cheguei a um site. Era um portal do Governo de São Paulo, mais precisamente do Centro de Referência em Educação Mario Covas.
A página trazia a história da Escola Estadual Abílio Manoel, em Bebedouro – São Paulo, inaugurada em 1913 com o nome de Grupo Escolar de Bebedouro e que teve como seu primeiro diretor o professor Ludgero Prestes. Liguei para a escola, me identifiquei, a professora Nádia Aparecida Cursi veio ao telefone e iniciamos uma parceria na pesquisa. Após este primeiro momento, mantivemos um contato virtual e telefônico semanal no qual Nádia, com a ajuda dos alunos, localizava nos arquivos da escola todo e qualquer documento da época de Ludgero. Seis meses de trabalho conjunto se passaram e não chegamos a nenhum documento que nos desse a confirmação de que o professor Ludgero Prestes era o menino Ludgero, trazido por Euclides da Cunha de Canudos. Como não desisto com facilidade, arrumei as malas e parti para Bebedouro. Se realmente não havia nada, eu queria constatar isso pessoalmente, além, é claro, de querer conhecer meus novos e dedicados cúmplices de jornada.
Nádia havia separado os documentos. Eram livros de registro sobre a administração do grupo escolar, e cada livro tinha 50 folhas rubricadas, uma a uma, as anotações eram manuscritas, datadas e assinadas pelo professor Ludgero e por inspetores de ensino que freqüentemente visitavam o colégio. Pouco a pouco o misterioso “canudinho” se materializava, e já tinha um rosto e uma caligrafia. Comecei a examinar os livros e logo na segunda folha estava transcrito: “O Presidente do Estado resolve nomear o prof. Ludgero Prestes adjunto do Grupo Escolar de Serra Negra para exercer o cargo de diretor interino do Grupo Escolar de Bebedouro. Palácio do Governo de São Paulo aos 7 de abril de mil novecentos e treze (...) Por decreto de 7 de abril de 1913 registrado a fls 19 [sic] do livro competente nº 3. Secretaria do Interior.”   
Festejei a descoberta: afinal, era só achar o tal “livro competente” e ver se achava alguma pista, que poderia ser seu número de matrícula como professor, ficha de inscrição, ou qualquer documento que fornecesse algum dado pessoal, tal como um número de registro de identidade ou filiação. Precisava descobrir onde estava a documentação da Secretaria do Interior, já que a criação da Secretaria de Educação de São Paulo foi posterior ao registro encontrado em Bebedouro. De qualquer maneira, a visita a Bebedouro havia indicado o próximo passo da pesquisa.
Se o Ludgero de Bebedouro era o menino de Canudos criado por Gabriel Prestes, amigo de Euclides, ele provavelmente teria estudado na Escola Caetano de Campos, em São Paulo. Esta hipótese sustentava-se no fato de Gabriel Prestes ter sido diretor da escola na época em que recebeu o menino. Liguei para o Memorial da Educação e perguntei se a documentação da escola estava preservada. Estava! Diógenes, um dos funcionários da instituição, mandou-me um e-mail dias depois. Ludgero tinha sido aluno da escola, durante toda sua vida escolar e seus registros estavam disponíveis. Agendamos minha visita e voei do Rio de Janeiro para São Paulo.


                                                                   Gabriel Prestes

Tive acesso aos livros de matrícula, às notas que ele teve nas várias disciplinas e ao registro de seu diploma. Na primeira matrícula escolar no primário, na coluna destinada à filiação aparece Gabriel Prestes como seu tutor e sua origem era a Bahia. Já na segunda matrícula, sua filiação aparece como “ignorada”. Nas matrículas subseqüentes, Gabriel volta a figurar como tutor. Uma vez em São Paulo, fui à Imprensa Oficial na esperança de que o decreto que tinha encontrado manuscrito em Bebedouro me levasse a alguma outra pista. O decreto estava lá, mas não trazia qualquer outra indicação com novas informações.
Por uma dessas razões que não conseguimos explicar, continuei folheando o Diário Oficial e encontrei, poucos dias após o decreto de nomeação de Ludgero Prestes, um pedido de transferência, também de Serra Negra para Bebedouro, de uma professora cujo nome me despertou a atenção. Ela se chamava Beatriz da Cunha Lima Prestes. Naquele momento, eu não tinha dúvidas. Só poderia ser a mulher de Ludgero. Agora ele tinha um rosto, uma caligrafia e uma esposa.
Voltei então à Imprensa Oficial com o seguinte raciocínio: se Beatriz pedira transferência de Serra Negra para Bebedouro, em algum momento anterior ela foi admitida em Serra Negra como professora. Precisava achar o decreto de sua nomeação para verificar se ela entrara na escola solteira ou já casada. A partir daí, foi procurar agulha no palheiro... Não tinha idéia do ano, nem do mês, quanto mais do dia de sua nomeação. Resolvi arbitrar o ano seguinte à formatura de Ludgero, ou seja, 1909, como minha data inicial para a busca. Era uma simples suposição, mas era preciso partir de algum lugar. No terceiro dia de pesquisa a sorte me sorriu. Em janeiro de 1910 Beatriz da Cunha Lima entrou como “complementarista” na Escola de Serra Negra. Estava ali o que eu precisava: Ludgero e Beatriz casaram-se em Serra Negra, antes de irem para Bebedouro.
A partir deste ponto foi só efetuar uma pesquisa na Internet sobre os cartórios existentes em Serra Negra, localizar o mais antigo deles e entrar em contato com os funcionários. Cerca de quinze dias depois do primeiro contato recebi em casa, pelo correio, uma cópia da certidão de casamento de Ludgero e Beatriz. Este documento me deu a tão buscada confirmação, pois dele constava um registro precioso: o noivo, Ludgero Prestes, era nascido em Canudos-BA, há 21 anos, tendo como pais João Luiz e Maria Luiz. Estava confirmado! O professor Ludgero Prestes, cujo rosto adulto e caligrafia eu já conhecia, era mesmo o jaguncinho trazido do palco do conflito por Euclides da Cunha.
A pergunta formulada pelo professor Calasans estava, portanto, respondida. Depois de 1908, Ludgero foi professor em Serra Negra, diretor interino do Grupo Escolar de Bebedouro e professor em Amparo, onde faleceu a 13 de outubro de 1934, com 43 anos, de câncer de fígado. Deixou quatro filhos: três meninos, sendo dois gêmeos e uma menina, com idades entre 21 e 18 anos por ocasião de sua morte.
No dia 22 de setembro de 1897, Euclides da Cunha anotou na sua caderneta: “Noto com tristeza que o jaguncinho que me foi dado pelo general (Artur Oscar) continua doente e talvez não resista à viagem para Monte Santo”. Sabemos que o jaguncinho resistiu não só ao trecho até Monte Santo, como também que cresceu, estudou, fez-se professor, constituiu família e viveu até os 43 anos de idade. O que é possível saber é isso – e também que perdeu pai e mãe e guardou vivamente na memória os episódios sangrentos da guerra.

Emblemático e merecedor de reflexão é o fato de que, livre das “mãos dos bárbaros”, ao ser matriculado na escola, Ludgero ganha uma data de aniversário – 15 de novembro. Não sei se esta é a data real, mas me parece coincidência demais. Parece muito mais significativo que esta tenha sido a data escolhida para marcar a conquista do butim simbólico da guerra que era o menino jagunço. A data escolhida para marcar seu novo nascimento registrava que ele nascia para uma nova vida, entre os civilizados, no dia da proclamação da República.
Outro fato significativo na trajetória de Ludgero que merece reflexão diz respeito à memória. Não é possível aferir que lembranças exatamente ele guardou da guerra que testemunhou, dos pais, de seus dias no arraial. No entanto, quando ele estava no último ano de formação, e teria 17 para 18 anos, seu registro escolar muda. A invés de Gabriel Prestes como tutor, aparece pela primeira vez o nome de seu pai – João Luiz, assim mesmo, com um sobrenome que é um nome próprio, provavelmente como o menino de 7 anos lembrava que seu pai era chamado. Na sua certidão de casamento, apesar de assumir para si o sobrenome Prestes, que usou por toda a vida, seus pais são João e Maria Luiz, e sua origem inequívoca é Canudos. Estes indícios documentais permitem deduzir que, mesmo desterrado de Belo Monte e levado para São Paulo, o menino Ludgero não esqueceu sua origem jagunça – o apagamento da memória, neste caso,não se efetivou de todo. 

A foto do professor Ludgero de terno escuro, no pátio do Grupo Escolar de Bebedouro, em meio a crianças tão bem vestidas, engomadas, penteadas, posando para o fotógrafo, em nada faz lembrar a imagem de desalento dos últimos dias de Canudos, registrados por Flávio de Barros. A foto da rendição, de 2 de outubro, mostra crianças esqueléticas, seminuas, encolhidas, esfomeadas e sedentas. São duas realidades tão díspares que parecem não se tocar, mas ali, ainda que tão distante do sertão, está o elo que une os dois momentos – Ludgero, agora Prestes, que se correspondeu com Euclides da Cunha, que homenageou o tutor ao dar ao primeiro filho o nome de Gabriel, mas que levou consigo João, Maria Luiz e Canudos.
                                                Grupo Escolar de Bebedouro


Fonte: Vanessa S. V. Monteiro-revistadehistoria.com.br- 7/11/ 2007