quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Histórias Caetanistas

                                                                                                            Por José Luis Fonseca




Ela foi a personificação das fantasias sexuais dos adolescentes da escola. Finalmente, algum deus do Olimpo ouvira nossas preces, nosso clamor, implorando pelo envio de um querubim dos campos celestiais, uma das deusas gregas, ou mais, uma fada ariana, que traria um encantamento especial e suavizaria nossa árida e enfadonha jornada de aprendizagem durante as aulas.
Era ela uma encantadora e maravilhosa loirinha, nossa nova professora nova de inglês: Dona Vera.
Dona? Pois é. Dona mesmo, pois queríamos que ela mandasse em nossos corações semi-pueris, nos nossos pensamentos semi-inocentes, já sofrendo a influência dos hormônios (ou feromônios), aumentando a taxa sanguínea de testosterona e de espinhas naquelas caras brancas salpicadas pelas manifestações dos primeiros pelos.
A Verinha, assim permita-me chamá-la - numa intimidade que sempre desejei ter, embora nunca alcançada, mas muito tentada - era totalmente diferente de tudo, de todos os padrões e formas das nossas antigas professoras, das sobejas donas, diria, madonas, que ocupavam o espaço principal da sala de aula.
Diferente da enérgica Doneneida, magra e visceral, que vivia comendo nossos fígados. Diferente da dedicada Vilvanita, poço de saber lingüístico, digladiando constantemente com nosso grosseiro expressar e tentando nos passar um verniz de civilidade, que ainda não tínhamos (será que temos?).
Diferente da Madame Boquinha, que trazia no aprendizado do Francês, algo de sofisticação, mas que já remontava ao século passado, refinamento ultrapassado, que, pra nós alunos do IECC, só servia mesmo pra identificar os nomes posudos nos cardápios, ou melhor, no menu dos restaurantes finos do Largo do Arouche, muito distantes da minha realidade econômica e da minha vontade gastronômica, já sofrendo os efeitos dos primeiros fast food (seria festifude?) da vida.
E a Verinha (com todo o respeito, que se deve dedicar a uma professora) simbolizava a modernidade. Era uma bombshell saída de algum estúdio de Hollywood diretamente para a Praça da República.
Quando circulava por aqueles extensos corredores com ares de austeros acessos de orfanato em direção a nossa sala de aula, transformava-os em passarelas das melhores casas de moda parisienses, afinal ela era a materialização das manecas européias. Era a Twiggy caetanista.
 Quebrou todos os padrões das nossas habituais maestrinas da escola. Aquelas senhoras que pareciam ter saído de algum quadro de Rembrandt, da nobreza européia, com suas roupas e cabelos renascentistas. Figuras que se pareciam com nossas próprias mães, tanto na imagem, como nos rigores com os tratos diários.
A Verinha, não. Ela era moderna. A começar pela matéria que ministrava: Inglês. 
Nós, que éramos de uma geração nascida ao som do rock, que amávamos os Beatles e os Rolling Stones. Pra nós, a Verinha parecia que tinha chegado de Liverpool para nos ensinar a língua de nossos ídolos. Que massa!!!
E diferentemente das outras matérias, dedicávamos total atenção as aulas da Verinha, afinal queríamos entender as mensagens de nossos ídolos.
Mas não era isso não. Na verdade, a figura da Verinha nos enchia de desejos reconditos. Aqueles desejos que Freud explicava. Essas coisas da mudança de fase da vida de um garoto, mudanças, as vezes,  exacerbadas com a própria fase da lua, como diria minha avó.



Um comentário:

  1. Maria Lucia de França Camargo17 de novembro de 2011 às 00:41

    José Luiz Fonseca

    Onde anda você? Fomos colegas no primário, no 2*, 3* e 5*ano, e nunca me esqueço que no primeiro dia de aula, não sei de que ano, sua mãe precisava sair para trabalhar e pediu à minha mãe que olhasse por vc. Encontramo-nos mais recentemente, na casa da Maria Luzia, lembra?
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    Maria Lucia

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