Foi criada, no início da década de 1890, uma modalidade de escola primária no Estado de São Paulo, que representou uma das mais importantes inovações no ensino, sobretudo pela adoção do método intuitivo, o que a tornou ícone da escola primária moderna. Para a formação de professores à essa nova escola, à essa nova educação, a escola normal passou por um processo de reforma tornando-se modelo para todos os demais graus de ensino. Assim, preconizado por Caetano de Campos, esse estabelecimento de ensino era mais do que uma simples escola de prática, era uma “[...] instituição que deveria ser o coração do Estado [...]” .
A Escola Normal “Caetano de Campos”, como templo do saber, e referência de escola a ser seguida pelas instituições educacionais públicas do Estado, abrigava os cursos normais primário e secundário, para formação de docentes nesse dois níveis de ensino. Tinha como anexo o Jardim da Infância, único caso de investimento pré-escolar na República, e a Escola Modelo, escola destinada ao Ensino Primário masculino dirigida pela professora Miss Browne. Nesse ambiente modelar, pudemos observar que muito se trabalhou pela modernização e boas condições do ensino público, ao unir teoria e prática em um mesmo espaço escolar, já que os normalistas, estudavam na escola normal em um período e faziam a prática docente em outro.
Planta com o primeiro desenho da escola: seção feminina do lado esquerdo e masculina do direito
WOLFF (1992, p.138) afirma que “as plantas do prédio denotam uma intenção de organizar com racionalidade e clareza salas de aula em torno de eixo de circulação[...]”. É importante observar que, no espaço escolar da Escola Normal “Caetano de Campos”, no ambiente destinado ao ensino de normalistas, havia uma completa separação entre a seção masculina, ocupando a ala direita do edifício, e a seção feminina, ocupando a ala esquerda. Essa separação de corpos, ocorria também na Escola Modelo, demonstrando uma intencionalidade na formação diferenciada de professores e professoras; ampliada ainda pelo currículo escolar, que prescrevia disciplinas diferenciadas para cada sexo, o que pudemos observar na distribuição de horários das aulas.
1895- aula de costura para meninas
1895- aula de costura para meninas
Viñao Frago afirma que “como tendências gerais pode-se indicar a fragmentação e a diferenciação - um espaço para cada atividade -, o incremento dos espaços exigidos e a crescente regulamentação e normalização da arquitetura e dos edifícios escolares [...]” . Ao observar as plantas da Escola Normal “Caetano de Campos”, e as prescrições precisas de onde as salas de aula, as salas de modelagem, a câmara escura, os laboratórios, as salas dos professores, os gabinetes de inspeção, a sala do Diretor, a Sala Nobre, os banheiros, os depósitos de materiais e demais espaços deveriam estar localizados, podemos verificar que havia regulamentação e normalização dos espaços escolares.
Dentre os outros espaços escolares, podemos observar a partir das plantas, que nos fundos do edifício, um amplo e belo pavilhão servia de abrigo aos alunos no recreio, cuja parte central era ocupada por um espaçoso ginásio. Os pátios para recreios eram bastante vastos com uma fácil comunicação para o ginásio. Esses espaços, na relação dentro/fora, de acordo com Viñao Frago e Escolano (2001), seguiam as prescrições médico-higienistas, tão importantes naquele período.
1895- Pátio: entrada feminina- pavilhão no fundo à direita, à esquerdo prédio do Jardim de infância
1895- Pátio: entrada masculina
Dentre os espaços voltados à “boa disposição moral para o trabalho”, como afirmou ao Sr. Diretor Gabriel Prestes no relatório da Escola Normal de 1896 ao Sr. Alfredo Pujol , com a disciplinarização para a República instaurada, foi montada uma oficina que ocupava todas as salas da frente do pavimento inferior do edifício. Na ala direita, para os alunos, estavam situadas as oficinas de tornos e marcenaria; já na ala esquerda, para as alunas, era ocupada pelas oficinas de modelagem e esculturas em argila e gesso. Outras três espaçosas salas contíguas, também eram ocupadas para as oficinas. Todos esses espaços, como afirma Palma (2004), comunicam, a quem sabe ler, a importância dada ao ensino e quais os métodos nela inseridos.
1908- sala com aves empalhadas e amostras diversas
1908- sala de anatomia
1895- Ginásio fechado construído no fundo da escola e demolido em 1939
1895- ginástica em classe- novidade instaurada pelos republicanos
1895- mesma aula de "gymnástica " que era dada para meninas na sala de aula
1895- evolução militar na aula de ginástica, exclusivo para meninos
1895- Sala de armas no porão
1895- aula de esgrima exclusivo para meninos
1895- aula de educação física para meninas- no fundo os bastões
Um outro aspecto importante para compreender a escola, segundo Viñao Frago (1998), refere-se a divisão do tempo: Para ele o quadro de horário constituí a materialização escrita da distribuição do tempo e do trabalho. Pelo “Horário Geral das Aulas da Secção Masculina e Feminina da Escola Modelo Caetano de Campos”, do ano letivo de 1895, observamos que havia em média 27 aulas por dia, distribuídas nas cinco classes, já que o curso tinha duração de cinco anos. Dentre as disciplinas, podemos mencionar: Português, Francês, Alemão ( facultativo),Aritmética, Latim, Astronomia,Desenho ,Caligrafia, Música Mecânica, História Natural, Educação Cívica e Canto , "O ensino destas matérias será comum a ambos os sexos, excepto o de agrimensura, economia política e exercícios militares, que é destinado exclusivamente aos homens e o de economia doméstica exclusivamente às mulheres". Como já foi dito, o ensino era intuitivo em relação aos processos empregados, tendo como objetivo principal, inspirar as crianças os hábitos de ordem e de trabalho. Além disso, para um justo equilíbrio entre a atividade e a atenção, os exercícios eram intercalados, com marcha entre bancos, ou ainda, ginástica, com ou sem acompanhamento musical. Esses intervalos constituíam verdadeiros períodos de recreio. O tempo escolar era divido em dois períodos com cinco aulas cada, separados por um recreio de vinte e cinco minutos. As aulas tinham duração de cinco horas, com início às 10 horas e término as 15 horas. Os cantos, as marchas, as ginásticas e evoluções militares demonstram uma preocupação sanitária, um “culto” ao corpo saudável.
1895- aula de "calligraphia"( ver na lousa).
Vejamos agora, para concluirmos a matéria o que se entendia por Economia Doméstica dada para meninas e Economia Política para os meninos, em lei( n* 88) promulgada em 8 de setembro de 1892:
Economia Doméstica:
I-A cozinha- Valor e compra, differentes alimentos:carne, cereaes, verduras, bebidas quentes e frias.
Influencia da bateria de cozinha sobre os alimentos.
Limpeza da Cozinha. Combustíveis. Illuminação
II- Vestuário: Instruções sobre as fazendas segundo suas origens, qualidade, preço, preparação e duração: linho, algodão, lã, seda.
III-Material...
IV-Lavagem: método
V-Bordado
Economia Política:
Renda, distribuiçã, definição, forma taxa, valor e medidas dos salários,
Lasalle: Lei do bronze. Causa dos conflitos entre patrões e operários.
Juros, lucros, imposto, suas especies.
Caridade e previdencia.
Consumo em geral. Consumo privado, consumo público. Relações entre o consumo e a produção, luxo...
Vejamos agora, para concluirmos a matéria o que se entendia por Economia Doméstica dada para meninas e Economia Política para os meninos, em lei( n* 88) promulgada em 8 de setembro de 1892:
Economia Doméstica:
I-A cozinha- Valor e compra, differentes alimentos:carne, cereaes, verduras, bebidas quentes e frias.
Influencia da bateria de cozinha sobre os alimentos.
Limpeza da Cozinha. Combustíveis. Illuminação
II- Vestuário: Instruções sobre as fazendas segundo suas origens, qualidade, preço, preparação e duração: linho, algodão, lã, seda.
III-Material...
IV-Lavagem: método
V-Bordado
Economia Política:
Renda, distribuiçã, definição, forma taxa, valor e medidas dos salários,
Lasalle: Lei do bronze. Causa dos conflitos entre patrões e operários.
Juros, lucros, imposto, suas especies.
Caridade e previdencia.
Consumo em geral. Consumo privado, consumo público. Relações entre o consumo e a produção, luxo...
Fonte:
Bardul Endo, Maria Cristina- A Escola Caetano de Campos no processo civilizador Republicano
Bardul Endo, Maria Cristina- A Escola Caetano de Campos no processo civilizador Republicano
CARVALHO, Marta M. Chagas de. A escola e a República. São Paulo: Brasiliense, 1989. MONARCHA, Carlos. A Escola Normal da Praça: O lado noturno das luzes. Campinas: Editora da Unicamp,1999.
PALMA, Cíntia Mara de Souza. O espaço que educa: Políticas educacionais, sanitárias e urbanísticas na constituição do espaço escolar da Escola Normal do Braz (1911-1915). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2004. Dissertação de Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade. São Paulo: PUCSP.
SOUZA, Rosa Fátima de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no séc.XX (ensino primário e secundário no Brasil). São Paulo: Cortez, 2008
PALMA, Cíntia Mara de Souza. O espaço que educa: Políticas educacionais, sanitárias e urbanísticas na constituição do espaço escolar da Escola Normal do Braz (1911-1915). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2004. Dissertação de Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade. São Paulo: PUCSP.
SOUZA, Rosa Fátima de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no séc.XX (ensino primário e secundário no Brasil). São Paulo: Cortez, 2008
VINÃO FRAGO, Antonio, ESCOLANO, Augustín. Currículo, espaço e subjetividade – A arquitetura como programa. 2a.ed. Rio de Janeiro: Dp&A, 2001
Fotos: CRE Mário Covas
Fotos: CRE Mário Covas
nossa como a escola era chique
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