terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Francisco Matarazzo, Assis Chateaubriand e Yolanda Penteado

                   Nos anos 20 e 30, os escritores e pintores modernistas haviam sido 'adotados' pela burguesia local, principalmente pelas famílias Prado, Penteado e Freitas Valle. Nessa adoção, pretendiam repetir nas suas mansões o modelo dos salões literários franceses descritos por Marcel Proust. Empenhavam-se numa tarefa civilizadora, numa São Paulo ainda provinciana. Já nos anos 40 a relação entre a produção artística e o mecenato seria bem diferente. A atmosfera dos salões seria deixada de lado em nome da criação de uma série de instituições artísticas bastante internacionalizadas. Esses novos personagens do fomento cultural localizavam-se num pequeno grupo de burgueses, fruto de uma mistura da antiga elite da terra e de uma elite mais recente de origem italiana.Essa camada emergente passava a financiar a cultura em empreendimentos conectados a um movimento de ascensão e de busca de legitimidade. A velha intelectualidade oficial burguesa incorporava uma nova intelectualidade surgida no seio da classe média, especialmente por meio daquela formada na década de 40 pela USP. Esse novo mecenato, diversamente daquele característico dos anos 20 e 30, dirigiu-se para a criação de instituições, alterando as bases dessa atividade e da vida cultural paulistana. As atividades culturais passaram a usufruir, de diversas maneiras, da presença dessas instituições. 
                   Dois empresários paulistas começaram, no pós-guerra, a descobrir os caminhos de um certo mecenato moderno: de um lado, Assis Chateaubriand (1891-1968), empresário ligado às comunicações que se embrenhou pelos trâmites artísticos; do outro, Francisco Matarazzo Sobrinho (1898-1977), o Ciccilo, industrial de ascendência italiana, hoje considerado Presidente Perpétuo da Fundação Bienal. Chateaubriand e Ciccilo acrescentaram aos seus dotes empresariais uma atitude de mecenas que os fez entrar para a história deste país com esta marca. As disputas entre esses dois empresários, afeitos ao mecenato, tornaram-se quase um folclore na cidade de São Paulo. Ambos apareceram como um novo tipo de empresariado que buscava se projetar no mundo econômico através dos empreendimentos culturais de cunho internacional. 
                   Ciccilo Matarazzo era sobrinho do Conde Francisco Matarazzo, italiano que construiu um dos maiores complexos industriais do Brasil. Francisco Matarazzo Sobrinho nasceu em 1898, em São Paulo, na rua Major Quedinho. Estudou no conceituado Instituto de Educação Caetano de Campos, na Praça da República, mas em 1908 foi enviado a Nápoles, acompanhado de um preceptor, a fim de completar o ensino médio. Depois seguiu para Liège, na Bélgica, onde cursou engenharia na universidade local. Viveu na Europa entre os 10 e os 20 anos, recebendo formação humanística dabelle époque. Por conta desses anos vividos na Europa e da forte ascendência italiana, seu sotaque ficaria marcado para o resto da sua vida, com uma mistura de italiano e francês ao falar o português. Nessa época gostava de pinturas, mas seu gosto estava apegado ao estilo acadêmico. 


                                                               Ciccilo Matarazzo

                   O pós-guerra abria caminho para o fortalecimento institucional e a atuação desse novo mecenato cultural e, em 1948, Ciccilo Matarazzo e Franco Zampari fundaram o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). . . No ano seguinte, Ciccilo Matarazzo fundou a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, também em parceria com Zampari. Desde o início, a Vera Cruz foi um projeto da burguesia paulista de criação de um cinema de qualidade no país. A dupla de origem italiana sonhava trazer para o ABC paulista a posição ostentada pela carioca Atlântida. Para dar início ao projeto, Ciccilo cedeu parte do terreno de sua granja, em São Bernardo do Campo (hoje Jardim do Mar), para erguer os estúdios da Cia. Cinematográfica, que durou até 1954.
                   A criação do TBC e da Vera Cruz não foi um fenômeno isolado. Pelo contrário, eles inscreveram-se em outras iniciativas que procuravam fazer de São Paulo um pólo cultural, contribuindo para transformar esta capital, no final dos anos 40, num importante centro de produção de cultura.



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 Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, paraibano de Umbuzeiro, agreste do Estado nordestino, nascido em 4 de outubro de 1892, foi, no seu tempo, talvez o homem mais importante do Brasil.
Foi dono dos Diários Associados, um império que chegou a possuir 34 jornais, 36 estações de rádio, 18 emissoras de televisão, 5 revistas e 1 agência de notícias.Implantou a televisão no Brasil, com a inauguração da PRF-4 – TV TUPI de São Paulo, em 18 de setembro de 1950, com a transmissão do primeiro programa, “O Show da Taba”. Foi a quarta emissora a ser implantada no mundo (só havia emissoras nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra).
Amante das artes, fundou, em 1947, o MASP – Museu de Arte de São Paulo, que hoje possui o seu nome.
Foi senador da República pela Paraíba e pelo Maranhão, embaixador do Brasil na Inglaterra, nomeado por Juscelino Kubitschek, e membro da Academia Brasileira de Letras. Falava, além de português, inglês, francês e alemão.
Morreu em São Paulo em 4 de abril de 1968.


                                                      Assis Chateaubriand
 Assis Chateaubriand fez muito pela aviação brasileira:
•    Assis Chateaubriand foi, provavelmente, o segundo brasileiro a voar em um avião, em 10 de junho de 1913, quando fez um voo panorâmico sobre a cidade do Recife, em Pernambuco, no Blériot do piloto francês Lucien Deneau.
•    É o civil brasileiro com maior número de horas voadas na história da aviação.
•    Os jornais e as revistas de Assis Chateaubriand foram os primeiros do Brasil, e talvez do mundo, a ter um jornalista especializado em aviação, o cearense Edmar Morel.
•    Organizou e apoiou dezenas de raides aéreos pelo Brasil e pela América do Sul. Em um deles, 60 aviões partiriam do Rio de Janeiro para Porto Seguro, para os festejos do aniversário do descobrimento do Brasil. Só havia um problema: Porto Seguro não possuía aeroporto. Nenhum problema para Chateaubriand, que acionou o residente Getúlio Vargas e, 60 dias depois, o aeroporto da cidade estava pronto e operacional. O raide foi um sucesso.
•    Em 1950, Chateaubriand foi o primeiro brasileiro e um dos primeiros civis do mundo a voar no jato inglês Comet.
•    Foi garoto-propaganda da companhia aérea holandesa KLM.
•    No início da década de 1940, Chateaubriand resolveu que estava na hora de o Brasil formar uma nova geração de pilotos civis, porém não havia aviões para isso. Ele convidou o Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado Filho, para a empreitada.
A fórmula de Chateaubriand era simples: pedir doações de aeronaves a magnatas, industriais, banqueiros ou quem quisesse colaborar com a campanha que ele batizou de “Dê Asas à Juventude”, rebatizada em 1949 como “Campanha Nacional de Aviação”. O doador tinha direito de batizar a aeronave doada com o nome que escolhesse, podendo ser o do pai, o da mãe, o se um antepassado, o de um personagem da história, com direito a festa com pompas e circunstâncias e grandes espaços de elogios nos jornais do dia seguinte. Durante uma década, foram doadas cerca de 2.000 aeronaves e criados cerca de 300 aeroclubes.
Era amigo de Carolina Ribeiro, diretora da Escola Caetano de Campos. No dia 21 de outubro de 1944 batiza 5 aviões com nomes ligados à Instituição; entre eles Caetano de Campos dentro do pátio da Escola! Na década de 1960, a diretora do primário Corintha Accioly colabora com Chateaubriand na campanha do ouro para o Brasil.
                                Páteo do Caetano de Campos com 5 aviões

    Jornal Nosso esforço mostrando Chateaubriand e D. Carolina Ribeiro


•    A campanha de aviação foi considerada pelas autoridades como uma grande realização, de indiscutível utilidade, criando uma mentalidade favorável à aviação em todo o Brasil.
•    Durante a campanha, quando já haviam sido doadas 600 aeronaves, a Inglaterra não possuía mais de 500 aviões de treinamento e a Argentina chegou a protestar, alegando que o Brasil estava se preparando para dominar os céus da América do Sul.
•    Em 1940, só existiam no Brasil 465 pilotos civis. Em 1946, já haviam recebido o brevê 5.753 pilotos, dos quais 5.000 aprenderam a voar nos aviões doados pela campanha incentivada por Assis Chateaubriand.
•    Em 1946, segundo dados do Ministério da Aeronáutica, dos 936 aviões de recreio ou treinamento registrados no Brasil, 800 tinham sido doados pela campanha de Chateaubriand.     



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  As primeiras bienais contaram com o esforço de Yolanda Penteado, esposa de Ciccilo na época. D. Yolanda pertencia a uma tradicional família paulista que construiu sua fortuna a partir da cultura do café (Penteado, 1976). Nasceu em 1903, na Fazenda Empyreo, em Leme, interior de São Paulo. Foi criada num ambiente de senhores de escravos e teve, durante sua infância, muitas mães-pretas. Viveu até os sete anos na fazenda e depois mudou-se com a família para São Paulo. Seu pai era amigo de Júlio Mesquita e de Antônio da Silva Telles, pai de Jayme Telles (o 'Rodolfo Valentino') com quem Yolanda viria a se casar mais tarde. Assim como Ciccilo, Yolanda também estudou no Caetano de Campos e, depois, como interna, no Colégio Des Oiseaux, onde só se falava francês. Mais tarde passou a estudar em casa, com professores particulares. 
                                                Yolanda e Santos Dummond   
                
 Sua juventude foi marcada pelo interesse que despertava nas pessoas ao seu redor. Jovem, bonita, culta e alegre, Yolanda colecionava uma legião de fãs, entre eles Júlio Mesquita Filho, Alberto Santos Dumont e, principalmente, Assis Chateaubriand, que a teria pedido em casamento várias vezes. Ela dedica muitas passagens de sua autobiografia a ele, a quem se refere como o melhor amigo que já tivera. No decorrer de sua vida, a roda de amizades de Yolanda Penteado incluiu Getúlio Vargas, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Maria Martins e Gilberto Freyre.
                   Separou-se de Jaime Telles em 1934 e, com 30 anos e sozinha, tornou-se responsável pela Fazenda Empyreo. Por lá passaram alguns dos principais personagens do cenário artístico, intelectual, político e econômico do país. Yolanda Penteado sabia receber e o fazia muitíssimo bem, especialmente em sua fazenda. Durante as primeiras bienais, por exemplo, ela organizou inúmeros jantares para os convidados especiais do evento. A abertura da IV Bienal de São Paulo (1957) deu-se na fazenda de Leme, com os convidados transportados em aviões que pousavam na pista construída nas terras de Yolanda e depois cedida ao poder público municipal. Naquela noite, o principal convidado era o presidente Juscelino Kubitsckek, que jantou e pernoitou no local.


                                                     Yolanda Penteado



Fonte:  de Oliveira , Rita Alves- antropóloga e professora universitária do Senac
            Soares Cardoso, Marcelo- Assis Chateaubriand e a Aviação
            Jornal Nosso esforço- Outubro de 1944



2 comentários:

  1. Sensacional vem de encontro a tudo que vi na minissérie "Um só coração". Agora quem realmente foi Martim(interpretado pelo ator Erick Marmo), que me pareceu seu grande amor? Ele existiu?

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  2. Parabéns pela publicação a respeito da senhora Yolanda.Ela foi uma mulher fantástica de visão, merece todo respeito da população lemense. Se ouve mulheres como Yolanda vivas hoje, Leme não teria-se tornado a cidade do lixo, devido ao maus políticos que estão administrando a cidade hoje. Yolando ficaria muito triste com o que fizeram com a cidade que ela nasceu e passou toda sua vida até a velhice. Se Yolanda fosse viva hoje jamais a cidade estaria na situação que se encontrada hoje um verdadeiro descaso com os moradores.Com políticos sem cultura, inteligência para organizar uma cidade tão linda. Peço desculpas pelas palavras e principalmente a Yolanda , mas o que vemos no momento em nossa cidade . Red

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