Em 1909, um grupo de alunos foi procurar o diretor da escola , Ruy de Paula Souza , para propor um projeto: a execução de uma grande bandeira nacional para ser presenteada ao couraçado São Paulo, recém adquirido pela marinha Brasileira.
O diretor aprovou a idéia, colocando-se à disposição dos alunos e logo reuniu no prédio do Jardim da Infância alunos e professores do Curso Normal, dividindo-os em equipes de trabalho e distribuindo tarefas. Interessante que foram chamados os professorandos Gustavo Kuhlmann e Antonio Ferreira de Almeida Jr para participarem da reunião, estes tornaram-se posteriormente grandes educadores, publicaram vários livros durante sua vida tornando-se reconhecidos nacionalmente.
Escreveram uma carta para um antigo professor da escola, o ex-cathedrático em matemática prof. José Feliciano que estava morando na França, pedindo ajuda quanto às proporções dos elementos que faziam parte da bandeira: letras, o losango, o globo, enfim o que fosse necessário para dimensionar a bandeira:
“com sábias prescripções sobre os detalhes do simbolo patrio, collaborou brilhantemente no successo deste emprehendimento
O tecido foi comprado no exterior, já que o país ainda carecia de certos produtos para a execução da mesma:
“Não se tendo encontrado em São Paulo, nem no Rio de Janeiro um panno que, por suas condições estivesse de accordo com o trabalho que pretendiamos apresentar, a commissão executiva resolveu mandar tecer em Lyon uma fazenda especial de largura pouco comum, sendo o pedido feito por intermédio do prestimoso sr. Antonio Bogganni.
Em maio de 1911 chegava á alfandega de Santos, por onde graças a especial concessão do governo federal, transitava livre de direitos, a seda encommendada da Europa. É um belíssimo e superior gorgurão bastante espesso para resistir as inclemencias do tempo. Da seda verde vieram 17 metros, da amarela 9 metros e da azul 6 metros, a primeira tem 1.30m de largura e as duas ultimas tem 1.50m”.
Foi pedido para o arquiteto Ramos de Azevedo, que devido à amizade com a diretoria e a simpatia pelos alunos que frequentavam a escola que havia construído, que fosse colocado em escala o desenho da bandeira a ser costurado pelas normalistas.
Ele, com simpatia à causa, não só fez o desenho, como providenciou com o Liceu de Artes e Ofícios uma arca de madeira, na qual a bandeira seria entregue e posteriormente guardada, quando não estivesse sendo usada:
"As proporções pouco vulgares e a exactidão do desenho exigiram porem, alem de executores de exepcional habilidade as facilidades de um “atelier” convenientemente installado. Para sorver taes difficuldades, em boa hora resolveu o dr. presidente geral e então director da Escola, socorrer-se da competencia technica de um profissional illustre, o architecto dr. Ramos de Azevedo, que gentilmente accedeu a solicitação. Obteve-se por este modo, um risco com as prescripções legaes, além de estheticamente acabado, o que veio concorrer sobremaneira para o bom exito final do trabalho”.
Todo este episódio é descrito numa das revistas feitas pelos alunos do Grêmio Estudantil 2 de Agosto, todo o processo de confecção da bandeira demorou quase 4 anos, este foi o motivo pelo qual a matéria ter sido publicada apenas em 1913.
“O Estímulo” : foi uma revista que perdurou por muitos anos e era impressa em papel couché, tinha fotografias e desenhos de alunos extremamente talentosos, como Antonio Paim Vieira , que depois tornou-se professor da Escola, notável artista plástico de importância nacional, merecedor de uma matéria somente a seu respeito.
O Grêmio 2 de Agosto havia sido fundado em 1906 e durante os anos em que a Escola permaneceu na Praça funcionou de maneira intermitente.Há relatos que tenha se extinguido em meados da década de 1950.
O nome do Grêmio é uma homenagem ao dia da inauguração da escola: 2 de Agosto de 1894.
Capa da Revista "O Estímulo"de 1913, número especial contando a história sobre a bandeira e o encouraçado São Paulo.
Comissão executiva responsável pelo projeto, em destaque a professora de artes manuais
Primeira etapa da bandeira: "Ordem e Progresso"
Segunda fase da bandeira: o globo com as estrelas. As normalistas encontram-se em frente do prédio do Jardim de Infância que foi demolido em 1940.
A bandeira completa
Homenagem à Ramos de Azevedo , onde aparece ainda em obras o "Lyceu de Artes e Officios", atual Pinacoteca do Estado
Fonte: Revista "O Estímulo"- 1913- CRE Mário Covas
Patrícia,você está de parabéns pela forma como tem atuado, isto tudo, no futuro, dará uma boa "enciclopédia".
ResponderExcluirFala sério: qual a escola que tem o apoio de um arquiteto do porte de um Ramos de Azevedo, para a auxiliar os alunos a fazer um trabalho extra-classe?
Abraços,